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Centro de Esportes, Cultura e Lazer Artidônio Napoleão de Souza, daí denominado Ceclans, ou seja, a junção das iniciais que deu nome a um dos maiores complexos esportivos da região, foi inaugurado, conforme placa, em dezembro de 1988, há exatos 30 anos. E todos viveram felizes para sempre… Se fosse um conto este poderia ser o final clássico, mas nem só de flores vive o homem, existem espinhos e, neste caso, muitos espinhos, que formam um descaso sem precedentes.

Desde que foi inaugurado, o Ceclans é alvo de críticas, pois a realidade que cerca o complexo no Bairro Santa Maria é outra, mais nua, mais crua. O Ceclans, há anos, passando por todas as administrações, nunca teve o seu valor reconhecido.

A princípio, conforme mostra artigo publicado recentemente no site do ex-prefeito de Barroso, Baldonedo Arthur Napoleão (baldonedo.com.br), a área do Ceclans, na época com cerca de 54 mil m², foi adquirida e paga pela Prefeitura, em 1971, no primeiro mandato de Baldonedo.

“Nosso objetivo, naquele distante 1971, era o de implantar o que chamávamos de Campus Educacional da FUNDEBAR (Fundação Educacional de Barroso), fundação esta criada por nós, também em 1971 para administrar todo o ensino municipal de primeiro e segundo graus (Escolas Municipais e Colégio Municipal) e oferecer cursos técnicos e superiores no futuro”, diz o ex-prefeito que tinha como objetivo criar uma faculdade referência na região.

Contudo, os anos passaram e a ideia e o tempo foram curtos demais para tamanha ambição da época e Baldonedo, que fez um mandato tampão, de apenas dois anos, não conseguiu concluir o objetivo.

“Quando voltei à Prefeitura, em 1983, para exercer o 2º mandato, o quadro já era outro. A Prefeitura já não dispunha daqueles recursos da década de 70 e Barbacena e São João já ofereciam os seus primeiros cursos superiores. A ideia de fazer de Barroso uma cidade universitária tinha sido sepultada. Resolvi, então, dar outra destinação ao terreno do Campus, que permanecia intocado há mais de dez anos”, diz o ex-prefeito, que baseado na vivência que teve na Alemanha, sonhava em construir um centro de esportes, cultura e lazer público, com livre acesso a toda a população. O Ceclans foi construído para ser uma fábrica de campeões barrosenses e para transformar Barroso na cidade dos esportes, projetando o nome do município em todo o Estado e fora dele”, diz Baldonedo que também afirma no seu artigo que o complexo foi construído com recursos financeiros exclusivamente da Prefeitura. “A obra não contou com nenhum recurso financeiro do Estado e nem do Governo Federal. Além disso, é importante frisar que esta grande obra não deixou nenhuma dívida para a administração seguinte”, relata.

O PROBLEMA

O próprio idealizador, e outras fontes que foram ouvidas pela reportagem nesta matéria especial sobre os 30 anos, afirmam que o problema não está ou esteve na obra, mas sim na execução e administração do Ceclans. “Criamos, através de Lei, uma autarquia municipal também denominada CECLANS, com autonomia administrativa e financeira para gerir o patrimônio e suas atividades”, descreve em seu site e aponta que foi um duro golpe para o CECLANS a extinção da autarquia que o administrava. “Extinta a autarquia, a obra do CECLANS, passou, simplesmente, para a responsabilidade da Secretaria de Educação, que não tinha nenhuma estrutura administrativa para este fim, ou seja, foi extinta a administração do Ceclans”, explica.

Segundo informações, o Centro Esportivo funcionou poucos anos como autarquia (conceito pertinente a vários campos, mas sempre lidando com a ideia geral de algo que exerce poder sobre si mesmo). “Ao longo desses anos nunca existiu um modelo de gestão que perdurasse no tempo e disciplinasse melhor a entrada de pessoas, a conservação dos espaços, a prática esportiva, ou mesmo que incentivassem o turismo, lazer e cultura. Até mesmo as escolinhas de esportes nunca tiveram um tempo mais longo de maturação, pois sempre que a administração mudava, havia verdadeiras ‘revoluções’ que trocavam todos os profissionais e interrompiam projetos em andamento a fim de acomodar alianças feitas durante as campanhas”, diz Antônio Claret, sociólogo e colunista do Barroso EM DIA, em um dos seus artigos publicados em seu blog em janeiro de 2013.

Fato é que, todos os governantes que passaram pela cidade, não deram ou não tiveram como dar a atenção que o Ceclans merece. Por exemplo, entre os problemas enfrentados, há anos, o Ceclans não tem mais o controle de acesso das pessoas através da sua portaria que hoje é figurativa. Os alambrados, que cercavam o entorno do complexo, foram arrancados e destruídos por vândalos ao longo do tempo e desde então não foram recuperados ou houve novas instalações. “Este é um dos problemas principais. Não adianta fazer nada no Ceclans se ele não for primeiramente fechado. Hoje, as pessoas conseguem acesso por todos os lados e dessa forma, infelizmente, fica mais fácil para roubos e para o uso de drogas nas dependências”, conta um dos ex-funcionários do Ceclans, que concordou em conversar com a reportagem sem se identificar. “Eu praticamente vivi ali e sei de muitos problemas. Infelizmente, quando a Prefeitura tinha condições de investir não investiu também, foi um erro”, diz o ex-funcionário.

DROGAS

Triste realidade! Criado há 30 anos para combater as drogas, conforme afirma Baldonedo em seu artigo, as dependências do Ceclans são hoje palco para o uso das mesmas. Não é segredo para ninguém: além de inúmeros roubos, há alguns anos, o uso de drogas nas dependências é muito comum.

Na chamada parte de baixo, onde ficam localizadas quadras esportivas de vôlei, futebol e tênis, é frequente, mesmo à luz do dia, a presença de cidadãos usando drogas, por toda a parte de baixo do Ceclans, onde há saída para pelo menos três bairros. O cheiro das drogas disputam espaço normalmente entre crianças e cidadãos de bem, que aos finais de semana querem usufruir das praças esportivas. “Não é de agora, sempre foi assim. E quando chamamos a polícia, pouco se resolve, pois a polícia chega por um lado e eles saem por outros lados”, declara o cidadão que fala em condição de anonimato e acrescenta que não adianta ficar cobrando de diretores.

“A cobrança tem que ser feita ao chefe de executivo. Os diretores não tem força para fazerem quase nada”, diz ele. “O resultado do descaso é que, aos poucos, o Ceclans veio perdendo a sua capacidade de formar atletas e cidadãos melhores. Ao longo dos anos, as quadras, campos, piscinas e espaços de recreação foram sendo deteriorados e, se nada for feito, em pouco tempo vão se tornar completamente inutilizáveis”, ressaltou, em 2013, Antônio.

FUTSAL

Antes que desportistas e sonhadores ferrenhos levantem a bandeira do futebol de salão, é preciso mostrar que o Ceclans sobrevive, há alguns anos, do status do Futsal de Verão, única competição que se consolidou, desde sua primeira disputa em 1994. Mas o que aparenta ser uma solução, se torna um problema grave.

As noites de janeiro encobertam a realidade e camuflam o descaso de todos aqueles que passaram pelas administrações. Alguns tentaram e perderam noites de sono tentando achar uma solução para que o Ceclans não se limite a um mês de janeiro, mas faça valer e ter em todos os meses do ano ações, revelações e execuções públicas que de fato nos permitam um dia sonharmos em ter uma fábrica de talentos dentro do nosso município, rico em atletas.

A resposta é: o Ceclans tem o que comemorar sim, mas ainda é muito pouco, muito.

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