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Para pessoas que prezam a vida, a paz e a compaixão, a palavra “tortura” deveria ser extirpada do dicionário. Para outros, cujos adjetivos me fogem (de tão repugnantes), conseguem fazer piadas sobre o tema, exaltam torturadores e debocham de torturados. Merecem ser citadas as duras e claras palavras de Alex Polari, que esteve nos porões da Ditadutra Militar brasileira e, por dias, sofreu torturas: “havia dias que as piruetas no pau-de-arara pareciam rídiculas e humilhantes e nus, ainda éramos capazes de corar ante as piadas sádicas dos carrascos.” Esse o testemunho de alguém que sofreu as consequências da tortura do regime militar brasileiro. Em países vizinhos, os torturados foram condenados e presos. Na Argentina, dezenas e dezenas de militares foram presos. O ignóbil ditador Chileno Pinochet foi condenado e preso na Inglaterra por seus crimes na ditadura. No Uruguai, vários foram condenados à prisão, inclusive perpétua.

Mas… No nosso Brasil, a situação é diferente… Um pavoroso Coronel foi “homenageado” por um ex-deputado quando da votação do impedimento da ex-Presidente Dilma Roussef. Quando do seu voto, o dito ex-deputado, que, por sinal, é nosso atual Presidente, disse que votava pelo impeachment em homenagem a tal torturador que, havia, inclusive, participado das torturas contra a ex-Presidente. E nesta semana, houve mais uma confirmação do ditado popular: “quem sai aos seus, não degenera.” O filho de nosso Presidente, Deputado Federal pelo Estado de São Paulo (mesmo sendo Carioca…), cujo nome sequer merece ser mencionado, trouxe novamente os “porões” Ditadura Militar à baila. Lembrou do absurdo episódio de tortura envolvendo a jornalista Mirian Leitão.

Pior, zombou do episódio. Zombou da torturada. No atual Brasil, a ética parece às avessas. Exalta-se o torturador e zomba-se do torturado. Logo Mirian, que com 19 anos e grávida, foi torturada por dias. Foi colocada nua frente há mais de uma dezena de militares, mesmo estando grávida. Depois disso, em um quarto escuro e ainda nua, foi lá colocada com uma cobra jibóia. E segundo o desprezível e patético Deputado, ele tinha “dó da jibóia…”

É exatamente isso, caros leitores. Um Deputado Federal defende a tortura. Zomba da tortura. Ofende a torturada. E aqui não estamos discutindo questões filosóficas, visões políticas ou versões partidárias. Tortura é crime contra a humanidade. Defender a tortura ou o torturador não é posicionar-se politicamente. É questão de caráter. Ou falta dele. Já vivenciei a tortura. Não fui torturado, mas vi, com meus próprios olhos ela acontecer. E é triste. É repugnante. É desprezível. A tortura retira do homem a sua essência. Retira-lhe a humanidade. Defender a tortura é absolutamente inconcebível. Acreditar que a tortura se justifica, seja por qual motivo for, é falta de civilidade, de humanidade. É falta de Deus.

Pior é sabermos que muitos a defendem. É só vermos quem são os nossos representantes. Quem vota em quem defende a tortura, o crime, a desumanidade aceita a tortura, o crime e a desumanidade. Pior, quer que seus representantes defendam tais coisas. Defender o Nazismo na Alemanha é crime. Mas, no Brasil, defender a tortura é “ato político”. Defender o Golpe Militar de 1964 (e vangloriar-se dele!) e dizer que não houve ditadura no Brasil é “posicionamento histórico”. As eleições se avizinham. Nossos representantes serão novamente eleitos. Eles são o espelho da sociedade. Eles são, de fato, a representação do que a maioria acredita e deseja. Talvez por isso elegemos palhaço, criminoso, defensor da tortura, cantor, BBB e tantos outros para nossos representantes. A culpa por estarmos nessa situação não é dos eleitos. É NOSSA, por elegermos tais pessoas.

Que Deus possa olhar pra o Brasil, pois, ao que parece, dias piores virão… A não ser que nos conscientizemos e aprendamos a votar e entender, de uma vez por todas, que nossa única saída para mudarmos o Brasil é o voto consciente, em pessoas de bem e que possam, de fato, representar o melhor do que nós brasileiros possuímos.

Oxalá tenhamos um futuro melhor que o passado e o presente. E nas palavras de Moacyr Silva Pinto: Ditadura nunca mais!

por Gian Brandão

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