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Pesquisa realizada pela UFMG em parceria com a Prefeitura de Betim verificou que indivíduos testados positivamente para o novo coronavírus e assintomáticos também podem ter uma alta carga viral. Entre 3.240 moradores da cidade da Região Metropolitana de Belo Horizonte que foram testados sistematicamente, 9 pessoas, ou 0,27%, não apresentaram qualquer sintoma de Covid, mas tinham grande quantidade do vírus na mucosa nasal.

Os casos são raros, mas significativos para estudos sobre a dinâmica da doença e diante da possibilidade real de contágio. Afinal, alguns assintomáticos tinham quantidade de vírus mil vezes maior do que uma pessoa sintomática para a Covid, de acordo com Renan Pedra de Souza, coordenador do Laboratório de Biologia Integrativa da UFMG, que participa da pesquisa.

“O esperado era que indivíduos com alta carga viral apresentassem mais sintomas. Logo, há certa surpresa em encontrarmos pessoas com alta carga viral e assintomáticas”, explicou o professor. Segundo ele, estudos feitos em outros municípios também verificaram essa situação.

Entre o início de junho e meados de julho, foram realizadas três rodadas de testes em moradores de Betim, utilizando os métodos RT-PCR (que identifica a presença do vírus na mucosa nasal) e sorológico (que verifica anticorpos).

De acordo com o pesquisador, são trabalhadas três hipóteses para a existência de assintomáticos com alta carga viral: as características do próprio indivíduo (como idade e doenças pré-existentes); o diferente tipo de coronavírus que as pessoas contraíram (pois o vírus passa por pequena mudança durante o processo de multiplicação); e diferença genética entre os infectados.

Outros dados

Com objetivo de compreender a dinâmica da epidemia de Covid-19 em um espaço geográfico determinado, a pesquisa indicou que o vírus se expandiu, durante o período analisado, para os bairros mais afastados e de maior densidade populacional, especialmente aqueles próximos a corredores rodoviários – especialmente na regional Imbiruçu.

Também foi verificado que há uma prevalência da doença entre as pessoas jovens e adultas, que muitas vezes não são isolados da maneira correta, fazendo com que o vírus continue circulando pela população.

“Como a manifestação da doença nesta faixa etária é geralmente na forma leve da doença, existe uma grande proporção de jovens e adultos na forma subclínica – assintomático ou paucissintomático (pouco sintomático). Como não manifestam a doença, não são isolados e mantêm as interações e a mobilidade”, diz um trecho do relatório da pesquisa.

Colaboração internacional

Os dados preliminares já estão sendo compartilhados com pesquisadores da Universidade de Oxford, na Inglaterra, referência mundial na pesquisa sobre a pandemia de Covid-19. “No último dia 21, foi feita uma apresentação on-line da nossa pesquisa para eles, da qual participaram pesquisadores de outros países e do Brasil, incluindo a imunologista Ester Cerdeira Sabino, responsável pela equipe que conseguiu fazer o sequenciamento do genoma do novo coronavírus. Foi o primeiro estudo a combinar as testagens rápida e PCR em escala populacional”, adiantou Renan Pedra.

A pesquisa já foi noticiada no site do Imperial College, de Londres. Confira aqui.

Política pública

De acordo com Augusto Viana, secretário adjunto de gestão da Saúde em Betim, o estudo confirma a importância das medidas de prevenção entre todos cidadãos, mesmo que não tenham sintomas da Covid. “Seguir rigorosamente o distanciamento social, usar máscara e higienizar constantemente as mãos é um dever de todos nós, sem dúvida”, afirmou Viana, acrescentando que os resultados da pesquisa estão auxiliando nas políticas públicas do município no enfrentamento à epidemia.

Betim registrou 4.650 casos confirmados de Covid e 166 mortes – sendo que mais de 43% dos óbitos foram registrados neste mês de agosto. Neste momento, no município, há 800 pacientes em acompanhamento (internação ou isolamento domiciliar).

Conforme o secretário, a pesquisa deixará um legado de grande relevância para a Rede SUS Betim, pois os conhecimentos científicos enriquecerão o trabalho dos servidores municipais da área da saúde no enfrentamento de qualquer outra epidemia viral.

“O banco de dados construído pela pesquisa tem potencial para estudos por cerca de cinco anos sobre diversos aspectos da população da cidade, tanto sobre aqueles que influenciam diretamente a qualidade e manutenção da saúde dos moradores, quanto dos que influenciam indiretamente. Conforme o estudo, a localização e a dinâmica social e econômica local influenciam diretamente no potencial de disseminação de qualquer tipo de vírus num determinado lugar”, explicou.

Informações Hoje em Dia

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