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Uma onda de reversão da retomada das atividades começa a se alastrar por Minas Gerais na esteira do agravamento da COVID-19 e da pressão sobre o sistema de saúde mineiro. Esse movimento já pôs em marcha à ré a flexibilização em locais como Nova Lima, Uberlândia e Araxá, mas será mais amplo, marcado por acordos coordenados entre o governo do estado e as secretarias municipais de saúde nos últimos 15 dias. “Estamos orientando mesmo é o aperto, uma rigidez maior no isolamento. Justamente para a gente ter um melhor controle da pandemia”, disse ontem ao Estado de Minas o médico e Secretário de Estado de Saúde de Minas Gerais, Carlos Eduardo Amaral.

O novo coronavírus segue vitimando mineiros em ritmo acelerado. Do boletim de sexta-feira para sábado ocorreu recorde de mortos, com 36 registros. De sábado para ontem, foram mais 25 óbitos, chegando a um total confirmado de 661. Desde março, já foram registrados 27.641 casos positivos, dos quais 10.534 são acompanhados. Em Belo Horizonte, o número de casos da COVID-19 subiu de 3.896 para 3.987. O número de óbitos permanece em 96.

Um apelo por colaboração feito pelo governador Romeu Zema (Novo) no sábado, dizendo que “o número (de casos, mortes e ocupação de leitos) dos últimos dias está nos assustando”, foi seguido de um alerta: “Medidas mais duras vão se fazer necessárias no estado”. A impressão era de que o governador planejava uma intervenção direta ou lockdown, com o fechamento viário e de atividades não essenciais nas regiões onde os casos podem trazer colapso do sistema de saúde.
Tais estudos de medidas mais restritivas existem e podem ser implementados sobretudo nas três macrorregiões de saúde em situação mais grave: Vale do Aço, Triângulo do Norte e Sudeste. Mas, por enquanto, a solução tem sido os recuos de flexibilizações coordenados e com apoio da Secretaria de Estado de Saúde de Minas Gerais (SES-MG). “Há mais de 15 dias estamos nos reunindo com todos os secretários municipais de saúde, prefeitos e órgãos como os conselhos de secretarias de Saúde regionais para essa rigidez maior no isolamento. Também temos clamado, diariamente, aos cidadãos e empresários que reforcem as medidas de distanciamento e isolamento social”, disse Amaral.
QUADROS CRÍTICOS
A realidade é diferente em cada município que volta atrás na flexibilização, seja a medida motivada pela falta de leitos ou pela necessidade de insumos. O drama de Uberlândia, no Triângulo, é a falta de leitos. Na segunda maior cidade de Minas Gerais, com 691 mil habitantes, até mesmo os leitos da rede privada já se encontram esgotados, com apenas duas vagas disponíveis para pacientes ontem. Com isso, se encontram incapazes de auxiliar os dois hospitais públicos locais no tratamento de doentes. A ocupação de leitos em Uberlândia chega a 99% da oferta, sendo que a cidade tem 2.711 casos confirmados e 51 óbitos registrados no domingo. Por isso, as medidas de restrição de comércios e atividades que estariam programadas para ser anunciadas na terça-feira e implementadas quarta-feira tiveram de ser antecipadas e já passam a valer hoje.
Só poderão abrir e atender normalmente, mas seguindo as regras de distanciamento, lotação e higiene, 21 categorias de atividades consideradas essenciais, como os supermercados, farmácias, abastecimento e construção civil. Outras seis categorias podem funcionar, mas apenas com atendimento eletrônico e delivery. Seis categorias de comércios e serviços como locadoras de veículos, agências bancárias e lotéricas terão o funcionamento limitado, de segunda a sexta, entre as 10h e as 18h. As demais atividades não listadas não terão licença para abrir.
De acordo com o secretário de Saúde de Uberlândia, Gladstone Rodrigues da Cunha Filho, as redes particular e pública estão em estado crítico, não importando mais se a pessoa tem um plano de saúde, a falta de leitos e vagas é crítica. “Estamos enfrentando a desobediência das pessoas, que resistem em ficar em casa. Idosos, gente da faixa de risco e até os jovens que levam essa doença para essas pessoas. Esse tem sido nosso maior problema”, afirma o secretário. “Os números nos levaram a tomar uma atitude drástica, mas se a população não se envolver, poderemos tomar uma ainda mais drástica dentro de duas semanas, com um lockdown”, afirma Filho.
FALTAM REMÉDIOS
Outra cidade da região que também recuou da flexibilização pela situação grave em que se encontra é Araxá, no Alto Paranaíba, onde vivia o governador Romeu Zema, onde até domingo havia 188 casos confirmados e quatro mortes, além de 88% de ocupação de leitos hospitalares. Na sexta-feira, o prefeito Aracely de Paula decretou estado de calamidade pública pela falta de insumos necessários aos pacientes graves em ventilação mecânica. “Fizemos uma reunião com os hospitais de Araxá e nos foi informado que há uma falta grave no mercado de bloqueadores neuromusculares essenciais para o tratamento de casos graves da COVID-19. Neste momento, enquanto corremos atrás de equipamentos, bombas de infusão, de profissionais, nos deparamos com essa situação, que nos deixa com estoque para 15 dias. Por isso, precisamos eliminar qualquer possibilidade de contágio e dar um passo atrás nas medidas de flexibilização”, disse a secretária municipal de Saúde, Diane Sultra.
A flexibilização em Araxá teve seu compasso ampliado em 4 de maio, quando o comitê de enfrentamento da cidade dividiu as atividades em grupos e estabeleceu regras e horários de funcionamento. O Grupo 1, composto por serviços básicos como supermercados, açougues, farmácias, postos de abastecimento e um total de 22 atividades pode funcionar da 12h às 21h. O Grupo 2, composto por 16 categorias de comércios não essenciais, como lojas de departamentos, salões de beleza, pet shops entre outros, só pode abrir durante a semana, das 12h às 18h. O Grupo 3, composto por clubes, cinemas e instituições de ensino permaneceu sem autorização. Agora, os dois grupos foram fundidos num só, com 29 atividades, ou seja, 27%  antes previstas, que não podem mais funcionar, como lojas de departamentos, tecidos, móveis e eletrodomésticos.
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Apelo para entrar na onda

A ação que o Secretário de Estado de Saúde de Minas Gerais, Carlos Eduardo Amaral, considera fundamental para que todos os municípios consigam um controle mais efetivo da COVID-19 é a adesão ao Plano Minas Consciente. “Estamos sendo enfáticos” sobre isso, afirma. “O plano determina protocolos sanitários e o comportamento da população quanto ao cumprimento do distanciamento e do isolamento social”, explicou. Até o momento, contudo, apenas 151 municípios aderiram ao programa, o que equivale a 17,7% das 853 cidades e 3,6 milhões (17%) dos 21 milhões de habitantes do estado.

O plano dividiu as atividades em ondas – da verde para serviços essenciais, à vermelha, com abertura total, passando pela branca e amarela. A progressão ou regressão obedecem indicadores de capacidade assistencial e de propagação da doença. Cidades como Uberlândia e Araxá não aderiram ao plano.

Mesmo com um grave estrangulamento do sistema de saúde na Região do Vale do Aço, a cidade de Ipatinga foi na contramão dos demais municípios e, em vez de restringir, flexibilizou um pouco mais seu comércio não essencial. Ipatinga não aderiu também ao Minas Consciente e enfrenta dificuldades para prover vagas aos pacientes em tratamento pelo novo coronavírus. Segundo a prefeitura, o sistema de saúde já está saturado. “O principal gargalo são os leitos de UTI COVID-19 SUS, que já apresentam 100% de taxa de ocupação”, informa a administração municipal. O município tem 263 mil habitantes e registrava ontem 992 casos positivos e 27 mortes.

CORONAVÍRUS EM MINAS

  • 27.641 Casos confirmados
  • 10.534 Pacientes em acompanhamento
  • 16.446 Pacientes recuperados
  • 661 Óbitos confirmados

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