Compartilhe:

Renato Russo e a Legião Urbana cantavam “tão certo quanto o erro de ser barco a motor e insistir em usar os remos”. Seria mesmo estranho ver alguém remando um barco à motor… Mas quando analisamos a frase em outros contextos, podemos ver que muitos de nós continuam remando mesmo possuindo um barco à motor. As novas tecnologias possibilitam conversarmos com pessoas do outro lado do mundo, ao vivo, com som e imagem. Mais, possibilitam sentir sensações, odores e gostos de coisas que nunca vimos e estão muito longe de nós. A ciência é capaz de criar coisas fantásticas como o tão alardeado transplante de um coração de porco para um ser humano. Ou a implantação de chips que possibilitam paraplégicos voltarem a sentir suas pernas. E, ainda, o controle de equipamentos apenas por pensamento. Um homem viver 90 ou 100 anos, já não é mais exceção nos dias atuais… Ou seja, a sociedade nos mostra, a cada segundo, que a capacidade, inteligência e a robustez de nossos cientistas são capazes de mudar nossas vidas e nossa sociedade. Difícil imaginar o mundo sem computadores, celulares, robôs e tantas inovações que tornaram a vida do ser humano mais simples.

Mas, por incrível que pareça, muitos de nós, até mesmos sem perceber, parecem esquecer dos grandes avanços da ciência e preferem acreditar em mentiras propaladas em redes sociais e por pseudos-especialistas, negando a eficácia daquilo que os estudiosos nos apresentam. Uma imperdível série distribuída pela Netflix, chamada “II Guerra Mundial em cores – Caminho para a vitória”, mostra a saga dos Aliados para a vitória na Segunda Grande Guerra. Mas o episódio que mais chama a atenção é a “quase-vitória” do Eixo, quando as tropas aliadas fugiram na propalada “Batalha de Dunquerque”. Neste episódio, é apresentado, de maneira impressionante, como os governantes alemães, principalmente Goebbles e Hitller, através de mentiras repetidas várias vezes, convenceram a população alemã que as arbitrariedades da Guerra e a dita “supremacia da raça alemã” era o correto. E o que isso tem a ver com a ciência moderna?

As mentiras e aforismos propagados em redes sociais tem tomado tanta força em nossa sociedade que, para muitos, têm mais valor que o dito pelos cientistas. A negação da vacina contra a COVID, foi propagandeada por milhares de pessoas em redes sociais, negando os estudos e esforços hercúleos feitos pelos mais brilhantes cientistas do mundo atual. E tais mentiras acabam se tornando verdade para muitos, haja vista a grande repetição e forma como são propagandeadas por pessoas com interesses, digamos, estranhos. A última grande falácia propalada nas redes sociais foi a “desnecessidade da vacina para as crianças de 5 a 11 anos”. Criou-se uma cortina de fumaça ao se produzir uma “consulta popular” para se discutir se deveria ser ou não disponibilizada a vacina e se esta deveria ser ou não indicada por um médico. Imagine-se o absurdo de se exigir de um pai que, para vacinar seu filho, tenha a obrigação de apresentar uma declaração médica para vacinar seu filho em um município, como Barroso, por exemplo, que sequer possui pediatras no posto de saúde? Ou seja, aparentemente, o que a ciência pensa, não importa.

O que vale é a “opinião” de pessoas comuns, que pouco ou nada sabem sobre o tema, nem, muito menos, entendem as consequências de sua opinião. Mas, ao que parece, a máquina da propaganda continua forte. Fakenews é apenas um nome pomposo do que já foi utilizado muitas e muitas vezes por governantes e pessoas que querem impor sua vontade a qualquer custo. Ainda que com mentiras. E o que mais impressiona é que muito daqueles que querem “continuar remando mesmo tendo um barco a motor” são pessoas probas e inteligentes, mas que se deixam iludir, sabe-se lá porque, por discursos insossos e ignóbeis. Ainda bem que prevaleceu a ciência e nossas crianças serão vacinadas. Meus filhos estão ansiosos para receber a injeção que vai “livrá-los” do mal da COVID, ainda que alguns tenham a “certeza” de que o mal é a vacina…

E ainda repetindo Renato Russo, “deve haver algum lugar, onde o mais forte não consegue escravizar quem não tem chance”. A ditadura da mentira, do egoísmo e da exclusão não pode prevalecer em nossa sociedade.

Tomara que tenhamos, em breve, dias melhores.

por Gian Brandão

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *