Tento em vão medir no teu olhar, a total amplitude do amor sem margens.
Os teus olhos de mãe têm todos os contrastes!
Eles sabem sorrir falando de esperanças, quando tua alma grita em desespero,
E as convulsões do pranto sacodem as entranhas do teu ser.
Eles sabem chorar na superfície, quando o golpe (tão raro, às vezes)
De imensas alegrias dilata além de ti, as fronteiras sublimes da ternura.
Em magia de tênues claridades, sem que o tempo consiga perturbá-los, eles
guardam sempre o brilho febril da mocidade e simultaneamente
têm a calma experiência da velhice.
Eu tento em vão sondar em que paragens infinitas do mistério humano está a suprema razão do teu amor sem preço.
Em vão… os teus olhos de mãe têm todas as bondades. E bondade é doação sem recompensas.
O filho é mau; o filho é tão mesquinho! No entanto em teus olhos há perdão.
Nos teus olhos há sempre chamamento para o regresso do teu filho pródigo.
O filho é bom; o filho é muito ilustre! E trazes nos teus olhos a humildade.
Como se nada merecesses de sua glória. Nos teus olhos ainda há novo estímulo
para que a outras alturas ele chegue.
O filho é apenas um ou são diversos: no mistério de uma quase eucaristia,
na unidade múltipla do olhar és totalmente mãe para cada um, em multiplicação de amor.
Em vão tento medir o teu olhar… Eu busco em vão a chave deste enigma!…
Porque mesmo depois que nos teus olhos a morte fez correr de novo irrevogável
o fecho permanente do adeus sem volta, lá de um mundo que meus olhos não perscrutam, eu sei que me contemplam com carinho.
Ó minha mãe, quem me pode dizer qual a suprema razão verdadeira
do teu amor sem preço, e a total amplitude do teu amor sem margem?
(Publicado no Jornal Losango – Abril 1970)