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A descoberta da paraplegia após uma cirurgia para retirada de um tumor aos oito anos de idade não impediu que a mineira Karen Aguiar, hoje com 22, decidisse perseguir os próprios sonhos – entre eles pular de parapente e até mergulhar – e se tornar miss. Na noite dessa terça-feira (30), ela recebeu em uma live a aguardada notícia de que havia sido escolhida a campeã entre as finalistas do concurso nacional de Miss Cadeirante, disputado por mais de 150 mulheres moradoras de praticamente todos os estados brasileiros.

A competição acontece anualmente desde 2017 e elege as preferidas entre os jurados e o público. Entretanto, ao contrário dos anos anteriores, desta vez a edição precisou ser on-line e contou com muito engajamento nas redes sociais. Há cerca de três meses, Karen decidiu encaminhar sua inscrição para o WhatsApp do concurso e dali em diante começou uma campanha para arrecadar curtidas e comentários – que contam como pontuação na disputa.

Seu objetivo, mais que ganhar a coroa, era ajudar a difundir o projeto que discute o empoderamento da mulher cadeirante no Brasil. “Vencer o concurso foi muito gratificante. É uma responsabilidade grande que carrego de representar a mulher cadeirante brasileira. É legal saber que estamos dando voz para a causa, queremos mostrar que a mulher cadeirante pode ser bonita e fazer tudo o que quiser”, conta a estudante matriculada no quarto período da graduação em psicologia.

Moradora de Belo Horizonte, Karen nunca deixou de respeitar as próprias vontades apesar das dificuldades inicialmente encontradas. Cadeirante há mais de uma década, ela se desdobra entre as aulas da faculdade, um projeto de dança e viagens. “Eu não deixo de fazer as minhas coisas. Eu gosto de esportes, danço duas vezes na semana e tenho um projeto, sou professora de movimento. Sou uma pessoa extremamente ativa, gosto de viajar, de fazer trilhas… Ando de ônibus, de aplicativo… O que precisar, eu faço”, detalha. As aventuras não param por aí e a paraplegia não foi uma barreira para que ela decidisse mergulhar e até mesmo pular de paraglider.

Apesar de ser tão incansável nos dias atuais, ela conta que foi necessário construir sua autoestima no decorrer dos últimos anos para aceitar a própria imagem. “Meu empoderamento foi construído aos pouquinhos, fui aprendendo a me aceitar e gostar de mim do jeito que sou. Nós, cadeirantes, temos nossas dificuldades, mas vamos nos aceitando. Minha família sempre me ajudou muito, eu vivo numa família com oito mulheres muito fortes que me ajudaram bastante”, relembra.

Além da coroa, a participação no concurso proporcionou à estudante a oportunidade de encontrar outras mulheres que encararam questionamentos semelhantes e que são, para ela, exemplos de superação. “Eu já conhecia algumas delas, mas dentro do concurso pude conhecer outras mulheres maravilhosas, donas de si e que me inspiram. Uma delas é a Lu Rufino, criadora do concurso. Ela é cadeirante e tem uma história de vida muito bonita. Se não fosse ela, não estaríamos aqui, ela foi quem pensou ‘por que as mulheres cadeirantes também não podem participar de concursos?’. A Lu é um dos meus maiores exemplos, ela ensina que nós podemos tudo”, conclui.

Informações O Tempo

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