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Apesar da pouca idade, o susto de não encontrar comida na geladeira ou na despensa bastou para que Ana Carla, de 10 anos, pegasse escondido o celular da mãe para ligar para a Polícia Militar e pedir alimentos. Sustentadas com um salário mínimo recebido pelo pai e cuidadas pela mãe, que é dona de casa, ela e as irmãs, de 9 e 7 anos, descobriram-se sem comida nos últimos dias, e, no aperto da fome, Ana Carla decidiu pedir ajuda para o pelotão de Alpinópolis, cidade no Sul de Minas, onde mora com a família.

Os pais surpreenderam-se quando os militares chegaram à casa alugada, na quarta-feira passada (24), com uma cesta básica que garantiria os suprimentos mais urgentes pelos próximos dias. Entretanto, a ajuda não acabou por aí: policiais se juntaram com repórteres do município da cidade vizinha de Passos, também na região Sul, e arrecadaram doações para realizar o sonho de aniversário de Ana Carla, que completará 11 anos no próximo dia 31.

Nesse domingo (28), ela recebeu o presente: chocolates, sapatos e a certeza de que a família não ficará sem comida outra vez. Ainda com o intuito de aliviar a situação financeira dos pais da menina, um morador de uma cidade mineira fronteiriça com o Espírito Santo entrou em contato com o cabo Juliano Pereira, que é quem está em contato com a família, e se comprometeu a pagar o aluguel deles até o fim do ano.

Ligação

Responsável por atender as ligações no pelotão de Alpinópolis na última quarta-feira do mês de junho, o cabo Juliano Pereira não esperava pelo pedido que receberia quando tirou o telefone do gancho na tarde daquele dia. Do outro lado da linha, Ana Carla dizia que pegou escondido o telefone celular da mãe para pedir que a polícia conseguisse uma cesta básica para a família. A menina de 10 anos contou que ela, as irmãs e os pais estavam passando fome.

Diante do pedido, o militar recolheu uma cesta básica que já havia sido doada à polícia e levou até a casa da criança, no bairro Rosário, no município do Sul de Minas. “A família é muito humilde, e, quando entregamos a cesta básica, os pais da Ana Carla ficaram até com vergonha, eles estão numa situação complicada até mesmo para pedir ajuda. Foi por isso que a menina ligou, ela pediu ajuda porque não tinha nada para comer em casa”, conta o cabo Juliano, que participou da entrega dos alimentos.

Após receber a comida, Ana Carla confidenciou ao militar que seu sonho era ganhar um chocolate, um sapato novo e alimentos para a família como presente de aniversário. “Ela falou que no final do mês, em 31 de julho, vai fazer aniversário de 11 anos e queria ganhar só isso. Eu entrei em contato com os repórteres Claudia Santos e Abner Oliveira, de Passos, que me ajudaram a arrecadar alimentos, chocolates e sapatos para ela e para as irmãs. No domingo nós viemos entregar”, relembra o militar.

A situação da família de Ana Carla começou a se complicar logo no início da pandemia, quando uma das irmãs precisou ser submetida a uma cirurgia de emergência por causa de um problema de saúde que causa baixa imunidade. Os pais das três garotas acabaram se endividando em função do custo da operação. “O pai é assalariado e recebe apenas um salário mínimo. A mãe é dona de casa e cuida das crianças. Eles pagam aluguel e tentam tocar a vida com o que têm…”, relata o cabo Juliano Pereira.

Ação social

De acordo com o militar, esta não foi a primeira vez que a Polícia Militar da cidade atuou ajudando famílias em situação de vulnerabilidade. Ainda no começo da pandemia, um comerciante do município de Alpinópolis promoveu uma live solidária, que terminou com a arrecadação de 21 toneladas de alimentos entregues à corporação para que fosse feita uma distribuição mais equitativa das doações.

“Em abril, o comerciante arrecadou os alimentos, e nós coordenamos a distribuição aqui, na cidade, e nos municípios vizinhos de São José da Barra e Nova Rezende. Diariamente nós recebemos alimentos de comerciantes, a própria população manda direto para o quartel, e nós distribuímos. Rodamos a cidade e sabemos quem realmente precisa de ajuda”, destaca o cabo.

Segundo ele, a ligação de Ana Carla é uma prova de que os moradores de Alpinópolis contam com os policiais em momentos de dificuldade. “Foi muito triste quando recebi a ligação, me senti comovido pela atitude dela, principalmente pela idade e por ter feito a ligação escondido. Às vezes a gente acha que os problemas estão longe, mas na verdade estão do nosso lado. A ligação dela demonstra que a PM tem credibilidade com a população”, conclui.

Informações O Tempo

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