Compartilhe:

Desde pequeno, Alecxandro Lopes da Silva, 41, aprendeu com o pai, em Governador Valadares, o ofício de pescar. Do rio que foi sinônimo de abundância, peixes de variadas espécies garantiam o sustento e a dignidade. No entanto, em novembro de 2015, os rejeitos da Samarco devastaram o leito do rio Doce e trouxeram agonia e sofrimento. “Meu pai tinha uma ilha onde ele criava animais, fazia a pesca. Pouco depois, ele morreu vendo tudo daquela forma”, conta.

Mas Alecxandro não desistiu. Com a filha pequena e a mulher, criou forças para recomeçar em outro lugar. Há quatro anos, ele se mudou para Brumadinho, na região metropolitana de BH, onde teve mais um filho. “Meu sogro foi lá, em Valadares, e viu como estava a situação. Ele tem uma chácara na cidade, me propôs de vir e fazer um teste no rio Paraopeba. Vim e até me surpreendi com a riqueza de peixes”, lembra.

Acampado por quase seis meses no entorno do rio, o pescador conseguiu alugar uma casa para a família nas margens do rio. “Fiz minha clientela de novo, me reergui. Vendia na feira aos sábados, levava toda quarta-feira quase 80 kg a uma peixaria de Venda Nova (em BH)”, diz. O retorno foi tanto que Alecxandro, que usava um barco a remo, comprou um motor. E, no dia em que o equipamento chegou, em 25 de janeiro de 2019, o inimaginável ocorreu: mais uma vez, ele foi atingido por um rompimento de barragem, desta vez da Vale, assunto desta reportagem da série que O TEMPO publica desde a última segunda-feira .

“Naquela sexta-feira, ainda fui para o rio, cedinho. Mal sabia que era minha última pescada. Desde então, estou sem trabalho”, lamenta. Os peixes saíram de cena e deram lugar a uma infinidade de remédios, obtidos em um posto de saúde, para controlar pressão arterial, colesterol e a terrível depressão. “Tentei um emprego com carteira assinada, mas não passei nos exames por conta desses problemas de saúde”, relata.

 

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *