Não. Definitivamente, nesse nosso primeiro bate-papo não abordarei a questão das manifestações populares ocorridas no ano passado e os reflexos sobre o pleito eleitoral desse ano. Até porque, as manifestações tiveram como causa inicial protestos contra os preços do transporte público na cidade de São Paulo. Depois dessa causa inicial é que assuntos como saúde, educação, bem como as condições gerais de nossa política vieram à tona. Mas, se não vou me ater às questões eleitorais, uma coisa chama atenção – e há muito tempo – sobre esse episódio histórico ocorrido no Brasil: a questão da coerência do povo brasileiro.
Ressalto um aspecto específico: durante as manifestações, inúmeros jovens declararam estar “engrossando o coro” a fim de exigirem uma educação de melhor qualidade, universalização do ensino público e gratuito, entre outras demandas. Por esses motivos, esses jovens foram chamados, por muitos, de “idealistas”. Mas aí vem ao pensamento a realidade das vidas de nossos jovens estudantes da atualidade (que eram grande parte dos manifestantes): os jovens estudantes de hoje em dia usam indiscriminadamente aparelhos eletrônicos DURANTE AS AULAS, seja “smartphones” para se conectar à internet, seja qualquer outro tipo de aparelho para ouvir músicas, enviar e receber mensagens e outras coisas do gênero. A sala de aula se transformou em um espaço em que o professor agora não disputa apenas a atenção do aluno com outro aluno, mas também com o mundo infinito da internet, das redes sociais e dos aplicativos. Sem contar o fato dos inúmeros episódios de vandalismo ocorridos nas instituições de ensino, em que os alunos danificam carteiras e cadeiras, sujam as paredes dos prédios, quebram vidraças e portas, vandalizam banheiros entupindo vasos sanitários e até fazem as necessidades fora dos locais devidos, além do pior hábito que o ser humano pode ter: jogar lixo por todo lado!!!
Sem contar que o cerne da incoerência está no dever mais fundamental de todo estudante: ora, se é exigida qualidade do ensino, obrigatoriamente o estudante deve oferecer, como contrapartida, qualidade de sua parte na dedicação aos estudos, no cumprimento de suas tarefas e na realização excelente de seus trabalhos escolares. E tudo isso está longe, muito longe de ser realidade. Uma grande parte dos estudantes – senão a maioria – tem um desempenho pífio em seus estudos pois não tratam a sua formação como passo essencial para a estruturação de suas vidas. Dessa forma encaram a escola muito mais como um centro social de relações que, propriamente, um lugar sagrado do desenvolvimento humano.
Pois bem, são essas incoerências que me incomodam. Não adianta o aluno ir às ruas, lutar pela qualidade e universalidade do ensino se, na sua vida escolar, ele negligencia os seus estudos, se na sala de aula ele usa indiscriminadamente o celular, se ele não estuda seriamente para se preparar para as provas, se ele não faz as tarefas que tem que fazer, se ele destrói o patrimônio escolar. Não adianta. E fica a pergunta: as manifestações ocorreram realmente desejando a melhoria do ensino? Porque se foi essa a intenção, saibam, jovens e todos os demais manifestantes, que a primeira revolução deve acontecer em você mesmo!
#vemprarua! Vem mesmo! Vamos sair de nossos mundos incoerentes e vamos começar a colocar em prática, primeiramente em nós mesmos, as mudanças que esperamos ver nos outros!
Por Lauro Lamounier
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