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À guisa de esclarecimentos.

A incumbência de escrever e manter a periodicidade são exercícios de reinvenção cotidiana. Jamais foi uma tarefa que pode ser feita com facilidade, pois é privilégio de alguns poucos iluminados, mas que com a ponderação, uma percepção de mundo e a batalha com as ideias podem gerar alguns bons rebentos. A articulação das ideias e a sua concisão de modo que o texto chegue a muitos nem sempre são correntes que exercem forças para o mesmo lado. Há sempre a contraprova daquilo que assumimos a responsabilidade de dizer. Por outro lado, a dificuldade pode ser um ato de saber os limites de nossa fala, da critica que encaminha àqueles que recebem a tarefa de tecer uma narrativa sobre algo. Por isso encaro como uma responsabilidade aquilo que foi proposto pela redação do jornal Barroso em Dia.

O começo sempre é um tempo de incertezas que pode gerar conturbações principalmente para aquele que tem a incumbência de fiar um texto. Mas também é um veículo que toma formas, variadas por sinal, e que jamais pode ser um ato de se concentrar no personalismo, um excesso de “eus”. Assim é o meu desafio: desencadear ideias estruturantes e suplantar o nome daquele que assina a coluna. Em tempo algum um exercício de se esconder, mas uma valorização daquilo que se debate. As intenções são sobressair ao relativismo, o imóvel formalismo simplista do “ah, é a minha opinião”, e que se contraia qualquer pronome pessoal para servir de alimento às questões necessárias que atingem a todos indistintamente e de forma útil.

A coluna será um exercício do diálogo multilateral: assuntos variarão como um esforço de conjuntura ampla. A expressão deve estar acima do bairrismo e dar uma tonalidade mais aberta. Existem temas que nos são tão caros e atingem a nossa vida de tal forma, que não cabem em nossos pouco mais de 81 quilômetros quadrados de área municipal. Assim, o espaço dado a mim é um constante exercício de crítica, no sentido de ir além do óbvio. Queremos, dessa forma, um espaço para a ponderação. Os eixos de assuntos incluirão reflexões de um professor de história sobre o multifacetado cenário de nossa cidade e também de temas mais amplos, coisas que aparentam distância, entretanto são presenças constantes em nossas vidas. Em resumo: parecem invisíveis, porém perceptíveis e necessários. Certamente pela coluna serão levantadas questões, em alguns casos, que são tabus, mas necessárias àqueles que querem acrescentar ao debate. Com isso, há em mim a esperança que seja uma plataforma colaborativa aberta aos que estejam interessados em contribuir. Como parte temática, dando um sentido à coluna em termos únicos, cotidianidade será a pauta. Fragmentações dessa serão a política, a cultura (no sentido de pensar sobre a vida coletiva dos homens) e reflexões próprias de meu ofício ligadas à história e à educação, sem formalismos. Por hora, nomeando aquilo que tem muitas faces: essa coluna é mais adequada ao modelo da ensaística. Em suma, não é o discurso formal acadêmico muito menos um artigo jornalístico. Contudo, não menos sem seus fundamentos.

Com essa missão agradeço ao editorial do jornal Barroso em Dia, personificado no jornalista Bruno Ferreira, pelo espaço e pela confiança. Será um grande prazer estar ao lado de colunistas de grande gabarito e cooperar pelas letras para meus conterrâneos. Dessa forma, a propósito, vem à minha memória, nos idos de 2002-2003, no antigo colégio São José, eu secundarista, entusiasta das letras, indeciso, afoito, em conversas informais com o grande professor Paulo Terra, poeta de primeira magnitude, que, no alto de sua sabedoria e numa reflexão sobre a arte de escrever, dizia que trabalhar com as palavras é um ato de dor, difícil, que expõe a sua subjetividade. Guardei esses ditos como um tesouro, e todas as vezes que recebo a empreitada de escrever sobre algo é inevitável não emergir das lembranças tais palavras. Entendi também que é uma forma de se comprometer com o que se escreve: quase uma exposição de sua intimidade e um vínculo estreito com sua própria sensatez e também o dever de sustentá-la.

Para tomar como um ponto final há em mim a esperança de que essas reflexões sejam úteis e despertem pessoas para o mesmo motivo que levou ao filósofo Immanuel Kant (1724-1804) definir o Iluminismo: Sapere, aude! (Ouse saber!). A primeira coluna é, por assim dizer, uma carta de intenções e um caminho que certamente a experiência cotidiana tratará de moldar e acrescentar ao espaço. Há, assim, a esperança que nossos textos sejam estopins para o exercício crítico.

Desde já, uma nota de agradecimento e expectativa. Que o caminho seja conjunto!

 

Por Maurício Alves Carrara

Outubro de 2014

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