Nesta sexta-feira, dia 21 de fevereiro, é comemorado o Dia do Imigrante Italiano no Brasil. Estima-se que mais de 30 milhões de brasileiros são descendentes de italianos, o que faz do Brasil o país com maior número de descendentes italianos no mundo.
De acordo com estudo realizado pelo historiador barrosense Wellington Tibério, um relatório apresentado na Assembleia Legislativa da Província de Minas Gerais, em 2 de março de 1871, reproduz a fala do Presidente Antônio Luiz Afonso de Carvalho, já sinalizando o pensamento de atrair imigrantes italianos para Minas.
Vendo o que está se passando em São Paulo, a transformação que apeia no seu comércio e lavoura , e considerando as vantagens que se tem a colher a Província com a introdução da imigração em grande escala , dirigi as câmaras municipais, juízes de direito, párocos e juízes municipais a circular do 16 do mês passado, a fim de que a imitação, do que se está principiando em outras províncias e se praticou nos Estados Unidos da América, se promovam associações particulares, que se incubam das distribuição dos colonos contratados, ou de mandar diretamente contratá-los na Europa para o serviço das fazendas e das fábricas, substitui desde já, quanto possível os escravos e preencher os vácuos deixados pela invalidez, manumissões, fugas, crimes e a morte (…)
Após os anos de 1880, os italianos, que viviam em crise, passaram a representar o maior número de entradas no Brasil, chegando a corresponder a cerca de 60 % do total de estrangeiros. Em sua maioria, eram procedentes de Bolonha, Ferrara e Verona, no norte da Itália.

ITALIANOS EM BARROSO
E essa imigração italiana foi uma realidade para a região do Campo das Vertentes e Zona da Mata. No fim do século XIX, através de hospedarias e colônias nas cidades vizinhas de São João Del Rei e Barbacena, a presença dos italianos já era evidente.
Destaque para alguns sobrenomes, presentes desde 1888 cujos descendentes migraram para Barroso: Aleva, Camarano, Caputo, Carrara, Calsavara, Canavez, Bedeschi, Daldegan, Misson, Stanciolo, Sotana, Vitta.
Livros do Cartório de Notas contendo informações sobre transação de imóveis e o arquivo paroquial, contendo registros de casamento, nascimento e óbito, e por último as atas das eleições ocorridas em Barroso, assim como alguns testamentos, foram subsídios para o trabalho do historiador.

Vale ressaltar que o recorte temporal contempla o período de 1872 a 1930, época de difusão governamental da propaganda de imigração – e 1930 final da República das Oligarquias. “Entendendo estar neste recorte o maior número de entradas nas hospedarias e núcleos colônias da região. Buscamos compreender a inserção do imigrante frente ao processo de industrialização vivenciado em Barroso”, diz Tibério.
“Barroso era um povoado singelo, no final do século XIX, a importância da chegada dos italianos, foi o impulsionamento da economia, industrialização e cultura. Sem duvida, foi uma revolução. Mesmo aqueles imigrantes q eram analfabetos, trouxeram uma visão de mundo mais amplo, mulheres pro ativas e muitos cultos e instruídos” diz a atual vereadora Vera Aparecida Rodrigues Pereira, a Verinha.

PRIMEIRO ITALIANO
O documento do primeiro registro de italiano em Barroso foi localizado no Arquivo Municipal de Barbacena, através do qual, o português Manoel Rosa Coelho denunciava:
“Diz Manoel Rosa Coelho, residente neste distrito, que no dia 25 p.p. o italiano Luiz Iatarola, mascate, abusando do direito de propriedade do suplicante tirou para si, contra a sua vontade, huma escrava sua parda Ana”.
O ato foi apurado pelo subdelegado alferes Antônio Carlos Ladeira em 12/04/1872 e conforme despacho do juiz, julgado improcedente, não configurando o crime de furto.
“A mudança na agricultura foi imensa, a culinária italiana se incorporou no nosso dia-a-dia. E hoje é referência em toda a vida da comunidade barrosense”, Verinha.
NA POLÍTICA
Outro ponto de observação destes italianos na sociedade Barrosense seria a participação na politica local. Nas primeiras eleições ocorridas na casa de Caetano Monteiro, convocadas para eleição de vereador especial do distrito, apresentaram seus nomes, o pároco da Paróquia padre Luiz Donato Rivieccio e o fazendeiro Joaquim de Souza Meireles. O resultado foi de 31 votos para Joaquim Meireles e apenas dois votos para o sacerdote italiano.
As eleições no arraial desde 1892 revela a baixa participação de imigrantes predominando os fazendeiros locais na conquista dos votos. Em 1897 Domingos Aleva disputou o cargo de agente executivo distrital e obteve apenas seu voto contra o português Ladislau Magalhães com 134 votos.
Nas eleições para vereador distrital Júlio Pinto disputou com o empresário João Daldegan e ganhou 91 votos contra 12 votos. Salvador da Silva parece ter sido o único dentre os italianos bem sucedidos , com sua eleição para o cargo de Conselheiro Distrital em 1901 , ocasião em que obteve 69 votos. Porém não consta nenhuma eleição de algum imigrante em cargos mais elevados na hierarquia da politica municipal (Tiradentes) e aqui mesmo no distrito.
SÉCULO XX
O distrito de Barroso, então pertencente ao Município de Tiradentes, apresentava um quadro populacional superior a 1.000 habitantes. As principais carências da povoação era de reconstrução da ponte sobre o Rio das Mortes, construção de um cemitério e serviço de iluminação; limpeza e nivelamento das ruas, no entanto, havia um movimento mercantil dinâmico liderado por estrangeiros de nacionalidade portuguesa e italiana. Através da estrada de Ferro os principais produtos que eram exportados eram a cal, seguido do queijo. A agricultura que predominava enquanto atividade econômica também contou com braços imigrantes.
Em 1922, o promotor da Comarca de Prados Dr. Antônio Patrício de Assis passando por Barroso registrou:
No Barroso, antigamente, havia vários estrangeiros de residência fixa, e hoje ainda há alguns, todos têm sido felizes no lugar e concorrido para o progresso do arraial. Os italianos foram pioneiros na diversificação das atividades econômicas no distrito de Barroso.
A primeira fábrica a existir foi a de Pedro Daldegan, um italiano procedente de São João Del Rei·, refere-se à Caieira Grande que a partir de 1926 foi transferida para Fidelis Guimarães. Geraldo Napoleão também informa sobre o Barrosense Futebol Clube (1926-1929), time que participavam os irmãos Luiz e João Daldegan .

TEMPOS DE GUERRA
Além do pioneirismo de alguns imigrantes e sua contribuição para a vida industrial da sociedade Barrosense, às vésperas da 2ª Guerra Mundial ainda figuravam a empresa Albertoni e Irmão LTDA, com 39 empregados, Humberto Carbonaro no ramo de Laticínios com 8 trabalhadores e Carlos Aleva destacava-se no segmento de panificação.
Independente da contribuição destes empresários deram a sociedade, movimentando a economia e gerando empregos, conflito da grande guerra colocava os imigrantes em situação delicada e sob estrita vigilância . Um oficio do prefeito de Dores de Campos, Ildefonso Augusto da Silva em 28/03/1942 destinado ao chefe do de Policia do distrito Federal, Filinto Muller informava que no distrito de Barroso havia alguns italianos como o empresário Silvano Albertoni e sua esposa, Humberto Carbonaro e o sitiante Ângelo Meneghim, o casal Albertoni acabou detido em Dores de Campos, sendo que Silvano ainda seguiu para Belo Horizonte. Pesava sobre ele a suspeita de manter correspondência suspeita com o Cônsul Italiano. Ao fim de tudo, seguiu para defesa de seu País retornando para Barroso com a patente de coronel e aqui faleceu em 12/03/1968.
CASAMENTOS
Relação de casamentos de italianos ocorridos em Barroso
Braz Benevenuto e Angelina Vassalo | 25/07/1885 |
Ângelo Ambrósio e Maria Ladeira | 17/02/1888 |
José Ângelo e Thereza Vassalo | 17/07/1886 |
Miguel Grassano e Rosalina Monteiro | 29/06/1894 |
Salvador da Silva e Antônia de Jesus | 14/10/1896 |
Manuel Pinto e Ambrosina Aleva | 30/11/1901 |
João Paulo Carneiro e Luiza Camarano | 18/010/1902 |
Carlos Aleva e Dionísia Ambrósio | 01/01/1903 |
Nicolá Giamarino e Maria Stanciola | 02/07/1904 |
Mariano Bartolini[1] e Maria da Glória Magalhães | 26/07/1917 |
Joao Batista Bedeschi e Julia Gonçalves | 10/05/1919 |
Antônio Misson e Margarida Ladeira | 04/06/1923 |
Pedro Sottana e Otelina Vilela | 21/02/1925 |
Antônio Garibaldi Canavez e Maria das Dores Mourão | 23/12/1925 |
Severino Rodrigues e Elisa de Cusatis | 28/07/1926 |
Humberto Carbonaro e Rita de Matos | 23/12/1926 |
Fonte:
Cartório e Paroquia de Santana do Barroso
ÓBITOS
Relação de óbito dos italianos ocorridos em Barroso
Caetano Monteiro | 65 anos | 23/07/1896 | |
Philomena Vitta[1] | Salerno | 03/06/1902 | |
Carolina Caputo | 81 anos | Itália | 10/06/1913 |
Ana Maria Arcelli | 64 anos | Itália | 29/01/1911 |
Cristovão Polhese | 80 anos | Itália | 29/12/1911 |
Salvador da Silva | 75 anos | Salerno | 17/05/1916 |
Tobias Aleva | 76 anos | San Giovanni a Piro | 07/06/1921 |
Bernardo Meneghim | 85 anos | Itália | 24/01/1932 |
Luiz Bedeschi | – | Itália | 01/02/1949 |
Angelo Meneghim | 51 anos | Udine | 10/06/1951 |
Silvano Albertoni | 80 anos | Asiago | 12/03/1968 |
Fonte:
Cartório e Paroquia de Santana do Barroso
Você pode ler na íntegra no Blog do auto Tibério o documento que conta em detalhes a vida dos italianos em Barroso. Clique aqui!