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Foi aprovada na Câmara Municipal de Barroso, por unanimidade, a Lei 2.774 de 04/09/2017, de autoria da vereadora Vera Rodrigues (PT), a Verinha, que altera a Lei 1.017/1983, acrescentando data no Brasão do município, criado em 1971 pelo então Prefeito Baldonedo Napoleão (PSDB), hoje Presidente da Câmara.

A partir de agora, além de conter a data da emancipação político-administrativa de Barroso (12 de dezembro de 1953), o brasão do município trará, também, a data da lavratura da escritura de dote hipoteca do Sítio do Barroso, datada de 05 de março de 1729. O trabalho de pesquisa para chegar à referida data é do historiador barrosense Wellington Tibério.

Em sua justificativa, a Vereadora Verinha destacou a necessidade de garantir ao barrosense a importância da história local, fazendo referência ao povoamento de Barroso iniciado no século XVIII, a partir dos documentos de Hipoteca e dote da Fazenda denominada Barroso, do português Antônio da Costa Nogueira, em 1729.

“Com isso, pretendemos ampliar o conhecimento do cidadão barrosense sobre a história de nosso município, que embora tenha sido fundado em meados do século XX, tem, ao longos dos séculos passados, uma longa trajetória”, ressalta a vereadora, lembrando que a data proposta já é conhecida da população através da publicação do livro “Barroso, subsídios para a História”, de 1979, de autoria do ex-Prefeito Geraldo Napoleão de Souza.

O historiador Wellington Tibério ainda ressalta que esta mudança singela contribui para a formação da identidade do barrosense que visualiza apenas a fabrica de cimento e emancipação como aspectos únicos da história da cidade. “Não tínhamos um Brasão e sim um escudo como símbolo maior”, relata.

A vereadora, que também é líder do Prefeito na Câmara, esclarece que não há obrigatoriedade de substituição das bandeiras do município, pois a Lei proposta apenas se refere a mudança. Porém, em aquisições futuras por parte dos órgãos públicos já devam constar a mudança.

“Uma coisa muito importante para uma cidade e um povo é ter uma identidade e um ponto de partida. Para isso existem em vários brasões de cidades as datas de emancipação política administrativa e de fundação. A nossa querida cidade de Barroso tem a sua data de fundação, mas infelizmente não constava no nosso Brasão essa data. É muito importante que o povo da nossa cidade saiba as origens da mesma e nunca pensar que Barroso surgiu com uma fábrica ou até mesmo com a emancipação em 1954. Barroso é uma cidade tão antiga quanto as vizinhas Tiradentes, São João del Rei, Prados e Barbacena. A partir do momento em que as pessoas souberem a importância dessa data, tê-la em seu próprio Brasão passa a crescer dentro dos corações barrosenses o orgulho dessa terra, orgulho de fazer parte da historia dessa cidade e de a cada dia ajudar na sua construção e reconstrução histórica”, Eustáquio Melo, membro do Conselho de Patrimônio Cultural.

Abaixo, o texto original do historiador Wellington Tibério para a justificativa da alteração:

CONSIDERAÇÕES SOBRE A EFEMERIDE 05 DE MARÇO DE 1729

A primeira referencia do século XVIII que se tornou publica a comunidade barrosense foi a cópia de uma escritura pública em 05 de março de 1729 efetuada por Antônio da Costa Nogueira hipotecando sua fazenda denominada Barroso:

Que ele [Antônio da Costa Nogueira] tinha alevantado no seu citio chamado Barrozo, uma capela comde Senhora Sant’Ana, a qual capela dotara como com efeito logo dotou com seis mil reis de renda, hipotecava a ela seu citio por nome Barrozo(…) cujo dote de hipoteca disse que fazia muito de sua livre vontade , sem constrangimento de pessoa alguma, somente pela muita devoção que tem a senhora Sant’ Ana e na forma de Direito se deve dotar as capelas particulares (…)

A cópia foi transcrita no 1º livro de tombo da Paroquia de Sant’Ana em 16 de março de 1895 época em o padre Antônio Cardoso Damasceno comunicava o bispo sobre o patrimônio doado à Santana.

No entanto, a escritura original fazia parte de um livro de 1820 “que se achava todo desencadernado pela sua grande antiguidade” e por esta razão uma nova transcrição fora feita no cartório do segundo oficio de São João Del Rei em 03 de maio de 1850 pelo tabelião Jose da Silva Miranda.

Assim se refere o título da histórica cópia: “Escriputura de dote e hipoteca que faz Antônio da Costa Nogueira a huma sua capella da invocação de Senhora Sant’anna isto no seu sitio do Barrozo” a veracidade da transcrição pode ser comprovada pela informação constante da margem direita “pagou por ajuste por exceder de cem anos trinta mil reis de que passou clareza a cinco mil reis de resto”.

Isto posto, a comunidade realizou uma homenagem aos 230 anos do ato efetuado por Antônio da Costa Nogueira, em 07 de setembro de 1959 quando o prefeito João Alves de Macedo Couto organizou um desfile cívico.Do programa constava inauguração de um obelisco edificado na praça Santana com 230 pedras calcárias alusiva á data 1729-1959 evidenciando o português Antônio da Costa Nogueira e a efeméride.

Em 05 de marçode 1979 quando se completava 250 anos do ato de lavratura da hipoteca e das primeiras referencias históricas do município de Barroso, houve a inauguração da réplica da igreja de Santana, e ainda a aprovação da lei nº 881 de 12/10/1979 criando a medalha Antônio da Costa Nogueira cunhada em ouro com objetivo de distinguir as pessoas que tivessem prestado relevantes serviços ao Município.

Por fim o ano de 1980 foi inaugurado um busto de Antônio da Costa Nogueira na Praça do Forninho consagrando a memória do português como fundador de Barroso:

O português Antônio da Costa Nogueira responsável pela fundação de Barroso, quando por ato espontâneo fez a doação de suas terras à Sant’ Ana ganhou no dia 1º de janeiro um busto que se encontra situado na praça do mesmo nome. A solenidade de inauguração do monumento contou com a presença, além do prefeito municipal, do cônego Luiz Giarola Carlos que descerrou o pano, do historiador Geraldo Napoleão de Souza que fez um breve relato a respeito do homenageado, vereadores à Câmara Municipal, vice-prefeito José Orlando de Melo e respectivas esposas, políticos e muitos populares. A solenidade foi abrilhantada pela Banda de Música Municipal sob regência do maestro Paulo Eustáquio e pelo Moçambique Nossa Senhora do Rosário.

O historiador Charles Boxer ensina que “(…) uma das primeiras indicações de colonização permanente foi a ereção de uma ou mais capelasque naturalmente eram de pau a pique ou de caniçada e reboque , embora fosse de costume as primeiras construções agraciadas com com telhado de telhas” e neste mesmo raciocínio Sergio da Mata esclarece sobre a primazia das capelas e sua função social na formação das sociedades:

(…) Não raro, foi a partir desta fé individual e que forçosamente havia de ter sua expressão coletiva, que muitas das povoações começaram a surgir: a necessidade premente dos sacramentos, a capela que surge pelo esforço coletivo de um grupo de vizinhança a necessária doação de terreno- patrimônio da capela- o embrião de povoação que surge.

Por fim , acreditamos que a data já possui uma relação com a comunidade barrosense e sua utilização colabora com a ideia de expansão do conhecimento histórico e por assim dizer fundamenta a identidade do Barrosense através de suas tradições culturais unindo ao símbolo um referencial de passado.

Nota: No passar dos próximos tempos, a Câmara Municipal de Barroso tratará de providenciar a alteração do brasão em suas dependências, bens, publicações e canais de comunicação.

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