Antônio Maria Claret de Souza (Tonho) está há mais de 40 anos na vida pública. Já foi presidente do PSDB municipal, Vereador e Presidente da Câmara em diversas ocasiões. Desde que retornou à Câmara, em 2005, foi reeleito duas vezes. É atualmente o político com o maior tempo de mandato consecutivo em Barroso.
Por ocasião das comemorações de 10 anos de mandato, completados agora em 2014, o Barroso EM DIA entrevistou Tonho. Na pauta, o passado, o presente e o futuro da política local.
Sua história política começa ainda na década de 70. Como era atuar naquela época? Quais as diferenças para o momento atual?
Em 1971 fui eleito o Vereador mais votado de Barroso com apenas 23 anos, assumindo a Presidência da Câmara no primeiro ano do mandato. Há uma diferença marcante entre aquele período e este. Naquela legislatura os vereadores não eram remunerados, não tinham assessores, verba de gabinete, nada. Havia uma aura de espírito público muito forte, um sentimento de dever cívico e os políticos daquela geração eram muito respeitados e admirados. Naquele tempo vivíamos o paradoxo de praticar democracia cercados de ditadura por todos os lados. Hoje, temos democracia, mas falta mais comprometimento dos políticos pra gerar a confiança dos cidadãos.
O Senhor já foi uma vez candidato a prefeito (1992) e por diversas vezes candidato a vereador. Qual a diferença entre essas duas esferas?
Uma candidatura ao executivo não pode ser um projeto pessoal, deve refletir o espírito de uma época e a sintonia de uma coalizão política, senão vira vaidade. No pós-92 e até hoje minha posição foi sempre apoiar, com desprendimento, candidatos mais novos, a fim de arejar a política. Para o Legislativo é diferente, não existe barreira para quem quer tentar e, em geral, são cerca de 100 candidatos. No Legislativo a maturidade e a experiência contam muito. No mundo todo, muitos políticos de longa carreira ou que exerceram cargos executivos vieram a dar sua contribuição no Legislativo. Nos Estados Unidos, a democracia mais antiga do mundo, isso é uma tradição. No Brasil, foi assim com JK e Getúlio. Em Barroso, o ex-prefeito José Meneghin, entre outros, também deram sua contribuição na Câmara por diversos mandatos.
Atualmente tramita na Câmara um Projeto de Lei de sua autoria sobre antidoping nas competições esportivas da cidade. Qual a importância desse projeto?
O esporte não combina com o uso de substâncias entorpecentes. O Projeto visa coibir essa prática e elevar o esporte local a um novo patamar. Além disso, é importante destacar que a lei é fruto de uma demanda popular e foi construída em parceria com as pessoas. Pela primeira vez um Projeto de Lei esteve disponível na internet (via blog) para consulta pública antes de entrar na Câmara.
Nestes 10 anos de mandato (2005-2014), quais foram as principais conquistas de sua atuação política?
Todo político precisa, antes de tudo, zelar pelo respeito da sociedade. A minha atuação se dá fortemente em defesa dos valores da ética, transparência e eficiência dos gastos públicos. Quando fui Presidente da Câmara, cortei meu próprio subsídio e eliminamos o 13º dos Vereadores. Ainda Presidente, promulgamos o Regimento Interno e a nova Lei Orgânica do Município. Dentre os Projetos de Lei, destaco a Lei Ficha Limpa (vetada pelo executivo), a criação do Conselho de Trânsito, a Lei da Micro e Pequena Empresa, o Prêmio Organização Amiga da Natureza e o Prêmio Jovem Legislador. O Jovem Legislador já levou conhecimento político a milhares de jovens barrosenses, formando toda uma geração de eleitores e cidadãos mais preparados. Eu também tenho como foco o resgate e valorização de nossa história devoto meu mandato, claro, a defender com toda garra nossas instituições filantrópicas e, especialmente, nossa saúde pública. Essa é uma batalha diária. Em 2008, na Presidência da Câmara, o Legislativo garantiu toda a subvenção para o Hospital, além do apoio à APAE e ao Lar Nossa Senhora de Fátima (Asilo). Este ano, mais uma vez, o presidente Kiko, com total apoio de nossa coalizão, tem garantido o importante subsídio da Câmara ao Hospital.
Por falar em saúde pública, a trajetória do Senhor esteve sempre muito ligada ao Hospital. Qual o balanço dos anos que esteve à frente do Instituto Nossa Senhora do Carmo?
Nossa missão sempre foi administrar acima de interesses pequenos, sem viés político, sem perseguição, exclusivamente em benefício das pessoas, especialmente as mais pobres, aquelas que dependem do SUS. Para se ter uma ideia, nos últimos anos o Hospital teve em seu quadro de funcionários candidatos a vereador dos mais diversos partidos e, nas últimas eleições, os três candidatos a vice-prefeito trabalhavam na instituição. A relação cordial entre todos e o papel importante do atual vice-prefeito, Dr. João Pinto, são exemplos desse modelo de agregação de forças em prol da saúde. O balanço que faço, portanto, é muito positivo, pois creio que a sociedade percebe o Hospital como um patrimônio dos barrosenses. O apoio da população às promoções do Instituto Nossa Senhora do Carmo e o sucesso do Programa SCI (Sócio Contribuinte do Instituto) traduzem a credibilidade dessa Instituição cinquentenária.
E sobre a questão da dívida do hospital? O que o Senhor acha da ideia aventada de se realizar uma auditoria?
A grande questão da dívida é que ela se origina na Prefeitura, em função de créditos a receber de cerca de R$204.000 desde 2007, o que exigiu a busca de financiamento, na Caixa Econômica Federal, para garantir o cumprimento pontual dos compromissos da Entidade. Vale notar que nada disso abalou o crédito absoluto com instituições financeiras e fornecedores. Ignorar propositadamente esse fato é jogar para a platéia e fazer um jogo político contraproducente. Acho a auditoria uma excelente idéia, aliás anualmente o Instituto Nossa Senhora do Carmo já é auditado por empresa independente, com registro na Comissão de Valores Mobiliares (CVM), respeitando a legislação que rege as entidades filantrópicas. Esse processo pode ter o efeito pedagógico e ensinar a todos nós, tanto aos que militam há décadas na área da saúde, quanto aos que acabaram de chegar, que não existe salvador da pátria e que os problemas só se resolvem com muito suor, seriedade e trabalho.
Quais são os desafios até o final do seu mandato em 2016?
Até o fim do meu mandato, além de continuar a empunhar as bandeiras de sempre, insistirei na realização do concurso público, que, respeitando a Constituição, garantirá a oportunidade a todos os cidadãos, independente de credo, cor, condições sociais ou partido político. Não se pode falar em administração pública séria e constitucional sem se falar em concurso público e Barroso não pode ficar para trás nessa questão.
Este ano teremos eleições, qual a sua posição?
A política exige coerência e comprometimento. Nosso partido apresentará candidatos aos cinco cargos em disputa este ano e nós, tucanos barrosenses, vamos apoiá-los fortemente. Pela primeira vez em duas décadas a política mineira terá a oportunidade de retornar ao Palácio do Planalto e nós estaremos firmes com Aécio nesse propósito, será bom para Minas Gerais e melhor para o Brasil.
Ao final do atual mandato, o senhor pensa em se afastar da política?
É um ditado clássico que a política só tem porta de entrada, não tem porta de saída. Isso não significa que os políticos precisem se candidatar sempre. Já participei de muita coisa na construção da história de nosso município e continuarei dando minha humilde contribuição, ajudando a pensar nas diretrizes de nosso de-senvolvimento e orientando e compartilhando experiência com as novas gerações que estão chegando.
Quais são as expectativas para 2016 e o futuro da política em Barroso?
Existe uma atmosfera de mudança e esperança no ar do Brasil. A forma de se fazer política tal qual a co-nhecemos ficou obsoleta e os protestos de junho nos mostraram isso. Em Barroso não é diferente, pelo contrário, o impulso econômico da expansão eleva ainda mais as expectativas de renovação. As eleições de 2012 encerraram um ciclo de 20 anos e as eleições de 2016 podem inaugurar um novo momento. As lideranças e estruturas políticas que melhor compreenderem a importância das novas idéias e melhor canalizarem a criatividade e a força da juventude sairão na frente.
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