Augusta Meireles com Coronel Arthur Napoleão, entre os muros do centro, rabiolas, bolas e golzinhos, corre sorrateiramente o menino de cabelo liso e sorriso saciado no rosto. Impossível não ver em volta, volta e meia daquela infância, os amigos à sua volta. E quanto mais as pernas cresciam, maior era o horizonte a ser explorado. Ele, com eles, atravessa a Coronel e entrava no mundo fantástico e utópico do Beco do Cinema. Mais gols, comemorações, brigas, que terminavam com as figurinhas entre os dedos, e o suor de uma tarde cheia de alegria na Barroso da década de 90.
E o mundo girou, como girava a bola por entre as pernas no bequinho e como girava o Bombril repleto de fogo do Máscara Vermelho na antiga Cerâmica. Corre para pegar, mas nunca pega, ou então, como ele gostava: pique-pega, garrafão, pique-vara, remotas brincadeiras que o tempo levou e as crianças de hoje ironizam com seus tablets e smartphones entre as mãos.
Eis que encontramos, a milhares de quilômetros, cerca de mil, o Gilson Silveira Elias, o Gilson do Chora, irmão da Janice, do Fabrício da Rua da Delegacia, amigo do Jarbinhas, do Jean do Cirilo, do Nabu, do Trine, do Bil, enfim, amigo dos barrosenses que, naquela época, entravam em tiroteios que não acabavam em tragédias porque as armas do Kaká e do Juatan Bartolini eram feitas de madeira, como todas as armas deveriam ser. E quando não matava, ou fingia que não morria, mesmo diante do tiro certeiro do amigo, foguete na moita, risadas sarcásticas e uma infância que nenhum computador, seja ele o mais sofisticado do mundo, conseguirá recuperar.
Entre os cerca de 40 mil habitantes, em Niquelândia, Goiás, Gilson, filho de Vera Lúcia Silveira e do saudoso Maurício Elias, o Chora, mora hoje com seus quatro filhos; Mateus, 16, Gustavo, 15, Beatriz, 13 e Isaac, 4. Casado com Valéria, o menino, que morou em Barroso até os 15 anos de idade e atravessava a principal rua da cidade frequentemente, hoje é Contador.
O Por Onde Anda? Teve a honra de encontrar e contar a história do flamenguista Gilson, aquele da Rua da Delegacia, que duelava atrás da Solo, que passou pelas escolas do centro, carregava o status de galanteador e comprovava a fama na rua do Sant’Ana.
É assim. O mundo é assim. A vida diz que é assim: longe, bem longe daqui, vive mais um barrosense, que nasceu nessas terras e desfrutou de uma Barroso, onde violência era apenas uma palavra que não saía do dicionário e não era conjugada. Uma Barroso que foi e não volta nunca mais.
Há seis anos sem sentir o cheiro da terra do cimento, Gilson, hoje um homem realizado profissionalmente, cumpre com suas obrigações de Contador. E entre registros, documentos e números do dia a dia, o menino de ontem, vira e mexe, se pega pensando no passado, com o olhar fixo no horizonte e com a memória na sua terra natal, onde um dia quer reunir os amigos e ser novamente um Contador, não de burocráticos problemas financeiros como decifra hoje, mas de histórias, que se perderam no tempo e precisam do ombro amigo para que sejam relembrados os episódios engraçados, dramáticos e realistas que ele viveu por aqui “na terrinha”, como ele faz questão de intitular.
Saudades, Gilson.
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