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No Brasil, 24% da população, ou seja, 46 milhões de cidadãos possuem alguma deficiência. Esta é a informação do último Censo, realizado em 2010. Já em Dores de Campos, o Censo mostra que cerca de três mil pessoas, dos dez mil habitantes, tem algum tipo de deficiência.

                O que é o caso do senhor Ilacir Rodrigues de Melo, 59, residente do Bair ro Freitas. Para Ilacir a vida de um cadeirante na cidade é muito difícil: a deficiência passa despercebida e as barreiras crescem cada dia mais, sendo o cotidiano delimitado por vários obstáculos. “Minhas maiores dificuldades são as de transitar pelas ruas de pavimentação. Elas são tortas, umas distantes das outras e tem a formação de buracos, que travam as rodinhas da cadeira. Há declives fortes em que a cadeira puxa para o lado e tenho que me esforçar para segurar para manter o nível e não deixar disparar. Também, as lombadas, ou quebra molas. Não tem um padrão de altura e transpô-las fica complicado. Pelas calçadas, fazem rampas para os carros, mas não pensam nos deficientes. Isso quando tem rampas. Até mesmo as faixas de pedestre não possuem rampas. Muitas vezes preciso fazer uma jogada de corpo, ou seja, controlar o peso na cadeira para não cair,” conclui. Ilacir comenta também que poucas vezes vai à rua porque as barreiras o impede de ter uma vida “normal”. No seu trajeto de casa para a avenida principal, há poucos passeios e é preciso disputar espaço com os carros.

               

PROFISSIONAIS

DA ÁREA

 

Além dos deficientes que “enxergam” as dificuldades do dia a dia, os profissionais da área também alertam para os perigos. Segundo a especialista em Acessibilidade e Turismo Inclusivo, Natália Rodrigues de Melo, a acessibilidade em Dores de Campos é ruim e necessita de muitas mudanças. “A acessibilidade na cidade não está boa, nosso município ainda precisa de muitas melhorias. Podemos enumerar que na cidade ainda encontramos barreiras físicas, como pouquíssimas rampas para cadeirantes, tanto em calçadas quanto em edifícios; calçadas sem rebaixamentos; calçadas e edifícios sem sinalizações (piso tátil para a pessoa com deficiência visual). Também existem barreiras técnicas, de comunicação e informação na cidade em grande parte do comércio ou edifício. E, a meu ver, a pior das barreiras, as barreiras atitudinais, que cor respondem às omissões em não se pensar o ambiente para a diversidade. Encontramos calçadas com grande quantidade de lixeiras e/ou lixos e obras mal sinalizadas,” afirma.

 

DEFICIENTE VISUAL

TAMBÉM ENCONTRA

BARREIRAS

 

Longe de ser exclusividade do senhor Ilacir, a acessibilidade do município consegue afetar também Carlos Heleno Teixeira, 69, deficiente visual, também morador do Freitas. “Meus maiores problemas são com tampas de registros abertas, muitas vezes enfio o pé nos registros. Os passeios são em sua maioria quebrados e não tem sinalização,” comenta Carlos Heleno que já passou por muitos apuros e que sempre precisa pedir ajuda para atravessar as ruas, pois os motoristas da cidade quase não param.

                Natália acredita que o primeiro passo para a inclusão seria um processo de conscientização da diversidade e, em seguida, a união do poder público, da iniciativa privada e da população. “Primeiro temos que passar por um processo de conscientização que mostre e sensibilize a todos que a cidade é composta dos mais diferentes sujeitos, mostrando que a deficiência é somente mais uma característica da condição humana e que a acessibilidade beneficia a todos, mesmo para quem não tem deficiência. Vejamos, uma pessoa idosa se beneficia de rampas e calçadas regulares; uma pessoa obesa e uma mulher grávida se beneficiam de uma porta mais larga; uma criança se beneficia de balcões mais baixos inseridos em lojas, bancos e supermercados. Depois disso, o poder público deve se unir à iniciativa privada e à população de um modo geral e pensar formas de melhorar o espaço para todos, de maneira que ele seja adaptado plenamente”, afirma.

                Segundo a profissional, há cerca de dois a três anos, o Governo Federal criou o lema e programa “Cidade Acessível é Direitos Humanos”. Hoje temos o “Viver sem Limites” que fala que todas as cidades têm que ser acessíveis no que diz respeito à habitação (Minha Casa, Minha Vida), Escolas Acessíveis, etc. “Existem algumas leis pontuais em alguns municípios que obrigam que as calçadas sejam todas acessíveis, mas ainda estamos distantes de encontrar uma cidade brasileira plenamente acessível,” finaliza. No Brasil não há nenhuma lei específica que obrigue as cidades a se adaptarem, mas o Decreto 5296/2004 faz inúmeras referências com relação aos projetos e planejamentos atenderem às normas de acessibilidade.

 

PREFEITURA FALA

SOBRE OS OBSTÁCULOS

 

Questionada sobre a acessibilidade, a Secretária de Obras e Urbanismo, Paloma Rodrigues, declarou que nunca recebeu, nesta administração, nenhum ofício relacionado à questão e que não há nenhum projeto em relação a acessibilidade na Prefeitura, mas que com o tempo serão feitas adaptações necessárias. “Existe a preocupação em tornar os prédios públicos acessíveis e todas as vezes que for preciso fazer algum trabalho nas ruas, olharemos para esta questão”, explica.

Raquel Lopes-UFSJ

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