Uma recente publicação do estudante de Arquitetura Welber Sacramento nas redes sociais, rendeu likes e contrapontos quanto à identificação de uma capela e de uma residência no século XIX nas ruas da futura Barroso.
Na verdade, de acordo com o historiador Wellington Tibério, tratam-se dos desenhos do alemão Ernst Hasenclever, que esteve em Barroso exatamente no dia 11 de agosto de 1839. A imagem em destaque é de um livro recentemente publicado no Brasil em trabalho conjunto da professora Débora Bandocchi Alves, auxiliada por Edson Brandão e Friedrich Renger, que ficou responsável pela tradução dos diários alemães que permaneceram desconhecidos por muitos anos.
Em sua postagem, o barrosense, que fazia uma pesquisa sobre Planejamento Urbano, chama atenção para uma casa próxima à capela que ele acredita ser a antiga Casa Sutana. Welber ainda aproveitou o desenho do alemão e fez uma comparação aplicando uma vegetação que faria referência ao morro do São José. “Fiz uma foto montagem e vejam que ele (Ernst Hasenclever) retratou o morro do Bairro São Jose com sua curvatura exatamente como é, e ainda, tem-se a impressão de que existem árvores centenárias no local, pois a vegetação do desenho é extremamente semelhante à foto”, trecho do post no Facebook.
Para o historiador Wellington Tibério, que analisou o livro, trata-se de um desenho que reproduz a primitiva Capela de Sant’Ana de Barroso, edificada em 1729, por Antônio da Costa Nogueira. “Sua arquitetura antiga constava de um alpendre que não resistiu ao tempo, pois em 1824 o bispo registrou que a capela estava em estado de ruína. Dessa forma, possivelmente, a capela passou por uma reforma antes de ser desenhada por Hasenclever que a retratou em seu primeiro centenário”, diz Tibério que acrescenta que era pequena e simples, sem adornos de destaque e não havia peças de prata e nem de ouro, conforme relatório em 15 de agosto de 1832 ao Presidente da Província de Minas Gerais.
Tibério explica que esta capela foi ampliada por Jovelino Soares Leite, após criação da paróquia em 17 de janeiro de 1884, e transformada em capela de Nossa Senhora do Rosário em 1931. Sem registros precisos e explicações viáveis, a capela foi demolida. Segundo o historiador, houve apenas um telegrama enviado à Câmara Municipal por Geraldo Magalhães Pinto em 09 de junho de 1970 como protesto e repúdio às autoridades e ao povo por permitirem a demolição. “Havia um cemitério ao redor da igreja e dizem que houve transferência dos restos mortais para o cemitério Santa Maria. Contudo, os três sacerdotes que estavam sepultados dentro do templo permaneceram sob os escombros da velha igreja”, finaliza.
RESIDÊNCIA
Sobre as especulações nas redes sociais, acerca do fato de a residência desenhada pelo alemão ser a mesma da família Sutana, Tibério descarta a possibilidade, pois, segundo o historiador, a família informa ter sido uma construção com pouco mais de 80 anos e que só teria sido adquirida por volta de 1950, de Firmino Vilela. Ainda de acordo com Tibério, a visita do alemão terminou com um jantar em que Ernst Hasenclever ouviu causos ao redor de uma fogueira e cantou modas de viola.
Portanto, às vésperas da cidade completar 63 anos de emancipação político-administrativa, os barrosenses, mesmo que induzidos por uma postagem, iniciaram uma rica discussão na internet, exatamente onde tudo começou, ou seja, a partir da Capela de Sant’Ana.