Compartilhe:
Resultado de ultrassom feito na segunda-feira, 14, aponta que bebê estava vivo, mas precisava de parto urgente, adiado para dois dias mais tarde, segundo a mãe – Foto: Arquivo Pessoal/Gazeta de São João del Rei
Resultado de ultrassom feito na segunda-feira, 14, aponta que bebê estava vivo, mas precisava de parto urgente, adiado para dois dias mais tarde, segundo a mãe – Foto: Arquivo Pessoal/Gazeta de São João del Rei

Aos 32 anos, Paula Pereira perdeu o primeiro filho que esperava, com mais de 35 semanas de gestação. E acusa um obstetra de negligência pela morte do bebê.

Para ela, a gravidez foi “quase um milagre”, já que por problemas de ovário policístico ela teoricamente não poderia ser mãe. Tiradentina, Paula começou a se consultar na própria cidade, mas como teria que dar à luz em São João del Rei, transferiu o pré-natal e começou a ser acompanhada pelo ginecologista e obstetra Airton Zanetti, com tratamento particular.

Em alguns momentos, alterações na pressão arterial, diabetes e aumento na taxa de açúcar no sangue pediam cuidado redobrado. Por esse motivo, a criança deveria nascer antes do período comum. “O primeiro médico com quem me consultava disse que precisaria dar à luz com no máximo 38 semanas. Mas o Zanetti sempre mudava a data do meu parto”, explicou Paula.

Impasses
Na última consulta com o obstetra, já em abril, ela levou todos os exames e recebeu a notícia de que tudo estava bem, apesar dos problemas de saúde da mãe. Aí começaram as contradições. “Depois de afirmar que o bebê nasceria no dia 28 e eu dizer que ele não aguentaria até lá, o médico marcou o parto para o dia 23”, contou.

No entanto, já na segunda-feira, 14, a história tomaria outro rumo. Ao notar que o bebê mexia menos, ela foi ao médico em Tiradentes. “Ele escutou o coração e disse que eu estava com 38 semanas de gestação e que o bebê poderia morrer a qualquer momento. Aí pediu ultrassom urgente, liguei para o Zanetti e fui para a Santa Casa”, relatou.

Drama
O resultado do exame voltou a apontar que o bebê estava bem, mas o parto continuava sendo de urgência. “Liguei novamente para o Zanetti e ele disse que pelo SUS quem deve atender é o médico de plantão. Aí perguntei se os R$2 mil que ele havia cobrado pelo parto deveriam, então, ser pagos ao plantonista”, contou.

De acordo com Paula, ao mencionar o pagamento o obstetra mudou de ideia e topou fazer o procedimento. Em outra data. “Foi coisa de um minuto: ele pegou meu ultrassom e meu cartão de pré-natal para checar minha situação. Insisti que já estava com 38 semanas de gestação, mas Zanetti disse que com aquele exame nem ele nem ninguém tiraria meu bebê naquele dia”.

Perda
Paula precisou esperar novamente, já que o parto foi agendado para dois dias mais tarde, na quarta-feira, 16. “Ele não mediu minha glicose e minha pressão e não ouviu o coração do bebê”, afirmou.

Na quarta, na sala de parto, veio o desespero. “Cheguei a ouvir ‘prepara que o João Gabriel tá vindo, ele tá chegando’. De repente Zanetti deu a notícia: ‘Está morto’”.

Revoltada, Paula diz que protestou ainda na maca. “Aí colocaram alguma coisa na minha veia e apaguei. Não me lembro de mais nada e nunca mais vi o bebê. Nem o Zanetti”, completou.

Justiça
A irmã de Paula, Patrícia Pereira, recorreu à Justiça. “Houve perícia. O bebê morreu na noite de terça-feira. Se houvesse o parto na segunda, como a Paula pediu, isso poderia ter sido evitado”, completou.

A Gazeta entrou em contato com Airton Zanetti, com ligações e mensagens no celular. Contudo, não houve retorno. O presidente da Santa Casa, Jorge Paranhos afirmou que a instituição realiza o Serviço Verificador de Óbito que, embora não seja obrigatório no município, é utilizado em alguns casos. “Quando há alguma morte que gera clamor público, fazemos essa investigação por uma exigência social”, afirmou.

Ele explicou ainda que foi aberta uma comissão de sindicância e que Zanetti afirmou à Santa Casa que o risco era esperado. “Ele disse que, por protocolo, essas gravidezes de pacientes diabéticas devem ser antecipadas em cerca de 15 a 20 dias antes da data provável. Então, fazer a cirurgia na quarta seguia o protocolo”, contou o presidente, lembrando que os dados estão sendo coletados para investigação.

 

Créditos para o jornal Gazeta de São João del Rei

Comments are closed, but trackbacks and pingbacks are open.