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Na última eleição presidencial tivemos mais uma vez a constatação de que o resultado apurado em Minas Gerais normalmente espelha o que o País elege. A melhor explicação para esse fenômeno das urnas provavelmente está no fato de nosso estado reunir em seu território as mais diversas influências regionais. Do sul “paulista” à “fluminense” Juiz Fora, passando pelo norte e seu inconfundível sotaque, Minas sempre foi um pequeno Brasil. Logicamente, no futebol também não é diferente. No entanto, nem sempre foi assim.

Em meados do século passado, quando o futebol se popularizou pelas ondas da Rádio Nacional, os clubes cariocas se beneficiaram do seu alcance para arregimentar uma legião de fãs por todo território. Além dos grandes craques que atuaram com as camisas de Botafogo, Flamengo, Fluminense e Vasco, os ouvintes foram cativados pelas vozes de gênios da narração como Jorge Curi e Waldir Amaral. Nessa época, era comum ouvirmos as pessoas declarando sua preferência por algum time do Rio. Meu pai, criado na vizinha Dores de Campos, costumava lembrar que ele, meu avô e meus dois tios torciam por um dos grandes da então capital da nação.

Sem tanta divulgação, Cruzeiro e Atlético ficavam mais restritos à região metropolitana de Belo Horizonte até a brilhante geração de Tostão, Dirceu Lopes e Piazza derrotar o lendário Santos de Pelé na Taça Brasil de 1966 e colocar Minas no mapa do futebol brasileiro. Poucos anos depois, foi a vez do Atlético Mineiro de Telê Santana conquistar o Campeonato Brasileiro de 1971 e também assegurar seu lugar entre os grandes. Consequentemente, seus torcedores se multiplicaram dentro de nossas fronteiras e fizeram frente onde antes havia um reduto carioca.

Vieram os anos 1990 e com eles o sinal irrestrito da Rede Bandeirantes. Mestre Telê surgia mais uma vez com um São Paulo que conquistou o mundo e agigantou ainda mais sua torcida. Quase simultaneamente, o Palmeiras montou uma verdadeira seleção e acompanhou o crescimento do rival. Logicamente, o Corinthians de Viola e Marcelinho e sua legião de fiéis não ficaria para trás. Então se consolidava a “invasão” paulista em nossa região.

O século XXI nos trouxe o acesso a todo conteúdo social e cultural do planeta. Num primeiro momento, a TV por assinatura se transformou na janela para acompanharmos o desempenho de nossos craques no Velho Continente. Em seguida, jogadores que eram conhecidos apenas durante a Copa do Mundo se tornaram populares entre jovens e adultos. Hoje, nomes como Lionel Messi, Cristiano Ronaldo e Ibrahimovic são tão conhecidos quanto o de Neymar. E que o leitor não se assuste caso um dia se depare com quem se defina exclusivamente como torcedor do Barcelona, Manchester United ou Juventus. É a globalização. E não seria a hospitaleira Barroso imune a ela.

 

Por Michel Costa

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