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“Δημοκρατία”. Não dá para ler? Mas dá para entender. Significa dēmokratía ou, simplesmente, “governo do povo”, que se origina do grego antigo. Mais direto impossível. Tudo bem? Não. Então, vamos ser democráticos. Entenda definitivamente: vontade popular. E não foi fácil conquistar. Foi preciso lutar contra um governo militar, em que o poder político era efetivamente controlado por militares. Coronéis, que se revezavam no poder, davam ordens, não consultavam o povo e esse regime durou exatos 21 anos. Foi criado um código de processo penal militar que permitia que o Exército Brasileiro e a Polícia Militar pudessem prender e encarcerar pessoas consideradas suspeitas, além de impossibilitar qualquer revisão judicial. É isso que você quer? O regime censurava todos os meios de comunicação do país e torturava e exilava dissidentes.
Os tempos passaram. O fantástico mundo do Facebook foi criado e…
“Não vamos desistir do Brasil! Impeachment já! Fora Dilma, Lula e PT!” Quando li essa frase postada na rede social, no domingo à noite, pouco depois que a maioria do POVO consolidou a vitória nas urnas para Dilma Rousseff, fiz um print screen e arquivei, entre outras centenas de absurdos que coleciono. Além de vir de uma pessoa graduada, e que se considera intelectual e esclarecida, é, junto com tantos outros de mesmo teor, o maior afronte à democracia já visto publicamente desde os tempos “áureos” da Ditadura Militar.
Lutar pelo Brasil é por acaso convocar o povo para ir para as ruas lutar contra a própria vontade popular? Lutar pelo Brasil é pedir o impeachment de uma Presidenta porque ela foi reeleita pelo povo? Definitivamente não. Não desistir do país, do Brasil, estado democrático, conquistado entre mortes e torturas, é aceitar a opção da maioria.
Não entro em méritos deste ou daquele candidato, até porque o Brasil ficou de fato dividido, mas a maioria optou nas urnas por uma candidata e há de se respeitar o desejo do povo, por favor. Você pode até não concordar, mas respeitar e reconhecer, como fez o próprio Aécio Neves, é dizer obrigado ainda bem que temos um estado democrático de direito. Também é consumado que não será fácil governar um país dividido, a menor diferença nas urnas desde 1989, mas é preciso novamente entender que a democracia requer o entendimento e a preferência da maioria. Pode ser piegas, infantil e repetitivo, mas ver superiores convocando o povo para lutar contra a posição do povo é inaceitável e, aí sim, desinformado.
Não é hora de encontrarmos e apontarmos os “analfabetos ou intelectuais”. Não é idiota aquele que vota em A, B, Branco ou Nulo. É desinformado o cidadão que não comparece para exercer um direito conquistado outrora, entre lutas, vidas e mortes.
E essa de que o Gigante acordou e depois voltou a dormir não cola. Os protestos de junho não eram contra aquele ou aquela. Não lembro de ver nenhuma placa: Fora Dilma! Fora Aécio! O protesto foi e tem que continuar sendo contra o Sistema, a fórmula, o jeito ou jeitinho como é feito e encarada a política no Brasil. Precisamos de mudança neste sentido, ou seja, de derrubar o Sistema arcaico e que visa beneficiar os políticos que estão no poder. É hora sim de acreditar no Brasil, que precisa se unir e lutar para reconquistar uma instabilidade econômica. Debater e protestar, como em junho, por uma reforma política. Por exemplo: pontuar o fim da reeleição, determinar o voto facultativo, instituir o voto distrital, enfim, consultar o povo, através de um plebiscito, talvez seja uma das opções.

E definitivamente, não é hora de fugir do país, não é hora de colocar na conta de ninguém, seja nortista ou mineiro, o peso de uma derrota. Vencidos seríamos se os homens de patentes resolvessem colocar quem eles bem entendessem no poder e não nos consultassem.
Viva a democracia!

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