Foi na parede do refeitório do convento de Santa Maria delle Grazie (Milão-Itália) que Leonardo Da Vinci pintou “A Última Ceia”, certamente uma das obras de arte mais importantes da história da humanidade. A pintura foi finalizada em 1498.
Mais de um século e meio após a conclusão da pintura uma porta foi aberta no meio da parede (!), mutilando para sempre um pedaço da obra prima.
Até hoje, 367 anos depois da porta, o seu contorno ainda pode ser visto. A porta e a pintura estão lá, hoje fundidas em uma coisa só.
Aqui em Minas Gerais, um de nossos patrimônios mais belos e menos conhecidos, a Igreja de Nossa Senhora do Ó, em Sabará, também teve destino semelhante. A tentativa de abertura de janelas laterais abalou a estrutura da capela e aniquilou alguns de seus painéis. Painéis esses que, curiosamente, foram pintados em estilo oriental, influência das trocas do início do século XVIII com a então colônia portuguesa em Macau, na China.
Essa forma de lidar com a arte e o patrimônio não é exclusividade de Milão ou de Sabará. Reflita você leitor sobre as obras de arte e arquitetônicas que um dia existiram em sua cidade e não existem mais. Nossa região é pródiga em abandonar ou botar abaixo casarões, igrejas, museus, praças, estações de trem…
A porta que estragou a obra de Da Vinci, burra como uma porta, é uma cicatriz profunda que serve para nos lembrar 3 coisas:
A primeira é que nada é eterno e tudo exige zelo e cuidado. Não só patrimônios materiais, mas também conhecimentos, ciência, história, memória…
A segunda é o quão horrível, incômodo e angustiante é viver em um tempo de trevas e ignorância, onde a filosofia, o saber e a arte são vistas como inimigas.
Por último, devemos ter ciência de que a ignorância tem poder e o seu estrago pode ser duradouro e irreversível.
por Antônio Claret
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