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De acordo com dados da Secretaria de Estado de Justiça e Segurança Pública (Sejusp), de janeiro a maio deste ano, foram registrados 1.723 casos. A ocorrência deste tipo de crime aumentou 10% em relação ao mesmo período do ano passado, quando foram contabilizados 1.568 casos. Já entre 2020 e 2021, a alta foi de 8% no número de casos (3.668 contra 3.945).

Em BH, entre janeiro e maio, 201 pessoas foram vítimas desse tipo de violência, o que representa um caso por dia. Em 2021, foram 217 ocorrências no período, 7% mais que neste ano. Porém, entre 2020 e 2021, a capital registrou um aumento de 6% no número de casos (491 contra 519).

O caso mais recente que chocou os mineiros foi o da menina Bárbara Vitória, de 10, que após ficar dois dias desaparecida foi encontrada morta em um campo de futebol, em Ribeirão das Neves, na Grande BH. A polícia confirmou que ela foi estuprada e enforcada.

 

A diretora da ONG Think Olga, Maíra Liguori, diz que esses abusos não são recentes, só estão sendo mais conversados, mapeados e entendidos. Ela lembra que até recentemente o assédio sexual não era entendido como uma violência. “Fazia parte de ser mulher andar na rua e sofrer assédio. Assim como fazia parte de ser homem assediar mulheres nas ruas.”

 

Porém, segundo Maíra, hoje essas discussões são mais acessíveis, transformando a visão das mulheres sobre o assunto, além da possibilidade de denunciar os abusos. “O que está acontecendo é que essas violências que sempre existiram de forma mais ou menos escancarada, agora estão sendo verbalizadas pelas mulheres”, analisa.

 

A Think Olga é uma ONG que trabalha a conscientização das mulheres e a disseminação de informação sobre leis que protegem esse público. A diretora da entidade destaca o exemplo da lei da importunação sexual.

“Começamos a falar sobre isso em 2013, quando o assédio não era entendido como uma violência. A partir desse debate público, um projeto de lei foi elaborado com base nas informações e depoimentos levantados por nós.” A lei da importunação sexual foi implementada em 2018.

 

Por medo de serem julgadas, muitas vítimas de violência sexual “ não conseguem contar sobre o abuso de imediato nem mesmo depois de buscar ajuda, diz a psicóloga Ana Carolina Pimentel, coordenadora do Grupo de Apoio a Mulheres Vítimas de Abusos (GAMVA BH).  Ela destaca que a principal característica do abuso sexual, principalmente o infantil, é a culpa. “A pessoa acredita que provocou esse abuso.”

 

O objetivo do grupo é acolher as vítimas e fazer com que elas entendam que não são culpadas pelos abusos sofridos. “Não é a saia ou estar no lugar errado. Ela não tem culpa disso, o culpado é o agressor e não a vítima. A parte mais traumática do abuso é a vítima se sentir invalidada quando expõe a violência sofrida.”

 

A psicóloga clínica, Cláudia Natividade, atende mulheres vítimas de violência em seu consultório há 24 anos e diz que nem sempre a vítima procura ajuda imediatamente. “É bastante comum estarmos atendendo mulheres e, em determinado momento, ela se lembra que sofreu abuso na infância ou relata uma violência sexual que já sofreu na fase adulta.”  Os agressores podem ser namorados, companheiros ou maridos.  “Ela não considera que teve aquela experiência ou conscientemente esconde o fato e não relata para outras pessoas. Esses acontecimentos, sejam na infância ou mesmo na vida adulta, são experiências muito ameaçadoras. Desorganizam as mulheres de forma muito marcada porque são violações.”

 

E essas violações, segundo Cláudia, causam danos psíquicos que podem acarretar dificuldades de reorganizar relações íntimas de forma saudável.

 

A psicóloga afirma que o processo terapêutico é importante para a vítima desconstruir essa ideia e passar a se conectar e entender relações de cuidado. “É um movimento de deixar essa questão no passado, mas isso depende de tempo e ele é muito específico de pessoa para pessoa.” Por outro lado, a vítima que não procura  suporte pode desenvolver outros transtornos. “São bastante comuns quadros de ansiedade, depressão, transtornos alimentares e isolamento social.”

 

Via Estado de Minas

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