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As grades que cercam a vida de mulheres que passam pelo sistema prisional são inúmeras. Machismo, agressões físicas, verbais e psicológicas, falta de estrutura pensada exclusivamente para elas, solidão e saudade dos filhos. O cárcere é marcado por perdas. Mas a recuperação não precisa ser. Nas oito Associações de Proteção e Assistência aos Condenados de Minas Gerais (Apacs) femininas presentes no Estado, por exemplo, a reabilitação começa no portão.

As internas se despedem do uniforme vermelho da cadeia comum e, após cruzarem a pintura que diz “aqui entra a mulher, o delito fica fora”, elas fortalecem a esperança de integrar o percentual de mais de 97% de egressas que deixam o crime depois de sair de Apacs. Atualmente, 547 recuperandas cumprem pena nessas associações no Estado.

Nas Apacs, não importa o crime cometido, todas as recuperandas – como as sentenciadas são chamadas nessas unidades – têm possibilidades de trabalho, estudo, tratamento psicológico e médico, entre outras. A diferença entre uma penitenciária comum e uma Apac é notável logo na entrada.

“Que bom que vocês vieram nos visitar!”. Com essa frase a reportagem de O TEMPO foi recepcionada, na unidade feminina de BH, no dia 29 outubro do ano passado. Assim como ocorre com as recém-chegadas presas, a saudação veio da “guardiã da chave” – uma recuperanda vestida com roupa casual – ao abrir o pesado portão azul com um sorriso nos lábios.

Da porta da unidade na capital, já dá para “espiar” o pátio arejado, com quadra e brinquedos para crianças. Ao lado, há um refeitório equipado com mesas, cadeiras e estrutura de self-service. O ambiente em nada se assemelha a uma cadeia. A Lei de Execução Penal é cumprida com rigor nesses espaços: as internas são privadas da liberdade, mas existe o respeito aos direitos humanos e, como consequência, uma maior possibilidade de reinserção na sociedade.

Antes do almoço, compartilhado com a equipe de reportagem naquele dia, a missionária Adriana Nascimento dos Santos, 53, guiou uma imersão pela religiosidade por meio de cânticos e orações. Adriana, hoje albergada (ou seja, que usa os espaços apenas para passar a noite), foi a primeira recuperanda daquela unidade a ter autorização para trabalhar fora da Apac. Ela fez um curso de panificação no Senac e agora atua em uma padaria. Além do trabalho, a missionária faz pregações semelhantes àquela que salvou sua vida.

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