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O grupo “Titãs”, com sua contumaz sátira cultural, nos brinda sempre com músicas e letras impagáveis. E hoje, peço desculpas para citar poucos versos de uma de suas famosas canções: “Família, família. Cachorro, gato, galinha. Família, família. Vive junto todo dia. Nunca perde essa mania”.

Nos últimos dias, vivemos intenso debate sobre postagem em rede social onde jogador do Minas Tênis Clube e da seleção brasileira de vôlei, com comentário sobre desenho animado envolvendo o super-herói Superman beijando um outro personagem do sexo masculino.

Não é o foco desta coluna discutir se o post é homofóbico ou não. De fato, gostaríamos de analisar o post sobre outro prisma: família. Em uma rápida busca pelo site do IBDFAM (Instituto Brasileiro de Direito de Família), encontramos a seguinte assertiva sobre o tema: “para haver família não é preciso haver homem e mulher, pai e mãe, apenas pessoas conjugando suas vidas intimamente, por um afeto que as enlaça”.

Na discussão sobre o post do jogador Maurício Souza, muito se discutiu sobre a “família tradicional”. Mas o que é realmente família? Poderíamos usar vários conceitos filosóficos ou religiosos para definir o tema. Mas preferimos destacar apenas os dois acima colocados. Primeiramente, quando vemos a letra da música “Família”, da banda Titãs, chegamos à conclusão de que a família moderna não se faz apenas com seres humanos. Muitos casais preferem cães a filhos… Outras, ainda que tenham filhos, têm seus animais de estimação como verdadeiros entes familiares, havendo hoje, inclusive, discussões jurídicas sobre guarda de cães, gatos e outros animais domésticos.

Assim, podemos concluir que família, atualmente, não é composta apenas de seres humanos. Por outro lado, no trecho do artigo do IBDFAM acima referido, vemos que a família, muito ao contrário do que consta nos dizeres bíblicos, por exemplo (“Por isso deixará o homem a seu pai e a sua mãe, e unir-se-á a sua mulher, e serão os dois uma só carne; e assim já não serão dois, mas uma só carne”), é muito mais do que a união de um homem e uma mulher para criação de filhos. É muito mais que isso. Ainda mais quando estamos em um país onde o Divórcio é constitucionalmente regulamentado, não havendo qualquer distinção entre pessoas por serem casadas uma, duas ou mais vezes.

O que se observa é que hoje, o que realmente caracteriza a família, é a vontade de pessoas se unirem, através de laços de afeto, para que, em conjunto, possam viver em harmonia. E aqui pouco interessa se as pessoas são do mesmo sexo; se possuem filhos; se possuem cachorros; se formam um trisal; se composta apenas de pai/mãe e filhos. Nada disso importa. O que vale é a que as pessoas busquem a felicidade através da vivência afetiva, independentemente do número de pessoas que compõe a família.

E o que isso tem a ver com o post de Maurício? Pelo menos, a princípio, vemos uma carga de preconceito na postagem, ao mostrar que o envolvimento de pessoas do mesmo sexo poderia ser “ruim” para a sociedade ao mencionar a frase “vai nessa que vai ver onde vamos parar.” Ora, se a família hoje pode ser composta de várias maneiras e formas, será que a existência de um beijo entre pessoas do mesmo sexo vai acabar com o temos por “família tradicional”? Que família tradicional é esta que quer esconder dos seus membros a existência de outros tipos de famílias, muitas vezes, mais felizes do que as nossas? Será que a família passa a ser pior se for composta de modo diverso daquele utilizado há séculos? Será que as famílias constituídas através de acordos, onde pais escolhiam os nubentes de seus filhos, eram mais feliz do que as atuais? Os novos tipos de família estão ai. A sociedade muda, e de forma cada vez mais rápida. Até os anos 70, não existia divórcio.

Hoje, muitas famílias do Brasil são compostas por, pelo menos, um dos cônjuges sendo separados. Ou pessoas que vivem juntas sem o vínculo cartorário ou religioso. E, por serem diversas do “tradicionalismo”, são menos famílias?
Não há de se importar como a família é composta. Em existindo afeto, esta família merece respeito de todos nós, e é uma célula imprescindível para a vida em sociedade. Tomara Deus que ao deixarem minha casa e passarem a ter sua “própria” família, meus filhos constituam no afeto sua relação familiar, pouco importando se com seres humanos com ou sem sexualidade, animais ou extraterrestres… Não precisamos gostar. Precisamos, apenas, respeitar as diferenças.

Se o super-homem é hetero ou homossexual, pouco importa. Tendo aspecto humano, ainda que com superpoderes, já é mais do que suficiente para ser respeitado e amado por cada um de nós.
E, na minha casa, é e sempre foi membro da minha família…

Por Gian Brandão

2 Comentários

  1. Opinião não é homofobia. Gostaria de que esse jornal abrisse espaço pra colunistas conservadores. Jornal tendencioso, porque não postou nada sobre o suposto plágio do plano de Governo do Anderson. Nem se discutiu sobre essa polêmica.

  2. Amei o texto! Concordo plenamente!

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