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Na última edição impressa do Barroso em Dia, o grande poeta e professor Paulo Terra – patrimônio vivo da história e cultura barrosenses e um dos principais pensadores contemporâneos da cidade – lançou uma interessante polêmica: teria sido Barroso, no passado, usurpado em seu território? Se sim, poderíamos “balançar o coreto” e recuperar nossa extensão dos tempos de distrito? A polêmica tem base na pesquisa do historiador Wellington Tibério, outro grande barrosense, possuidor de um extenso e belíssimo trabalho sobre nossa cidade. A intenção deste texto, porém, é menos a de responder a tais questões e se concentrar no passado e mais a de problematizar o presente e lançar novas reflexões para o futuro.

De acordo com os registros históricos relatados, o distrito de Barroso, por volta do século XIX, teria uma extensão de cerca de 170 km2. Em uma revisão administrativa estadual, na década de 30, o distrito teria sido subtraído em seu território, supostamente com a “anuência” das lideranças da época. Adicionando à polêmica, seria interessante complementar a análise documental com uma avaliação das transformações territoriais dos municípios vizinhos. Uma hipótese é a de que a tal revisão administrativa dos anos 30, certamente mediante técnicas mais apuradas, tenha apenas dado contornos cartográficos mais objetivos às dimensões reais dos distritos e municípios mineiros. Considerando as dimensões atuais das cidades às quais pertenceu Barroso na década de 30, Dores de Campos (127km2) e Tiradentes (83km2) fica difícil acreditar que, naquela época, o distrito Barroso tenha tido uma extensão territorial real tão superior a das próprias sedes.

Apesar da polêmica, e mesmo que não fique comprovado o suposto passado de grandeza territorial barrosense, se a sociedade acreditar que é de fato necessária uma nova porção de terra para o desenvolvimento local, vale a investida dos poderes públicos para “balançar o coreto”. Pode ser que faça mais sentido, por exemplo, que no futuro a cidade de Barroso administre o potencial turístico da região da Lajinha. Essa região, embora pertencente a Prados, é acessada por aqui e fica mais próxima da sede do nosso município. Pode ser também que faça mais sentido às comunidades de Padre Brito ou Ribeirão do Elvas pertencerem a Barroso, uma vez que aqueles cidadãos já se encontram mais integrados à nossa realidade, não raras vezes acessando nosso hospital, participando de nossas celebrações…

É preciso encarar esta questão com parcimônia e objetividade, evitando os caminhos do saudosismo ou do revanchismo. O tamanho da cidade é uma questão importante e pode, inclusive, ser crucial para garantir mais qualidade de vida às populações de fora, imediatamente vizinhas. A variável “tamanho da cidade”, entretanto, pode não ser tão decisiva para a qualidade de vida dos barrosenses. No Brasil, não raras vezes, são justamente os maiores municípios em termos territoriais aqueles que mais sofrem com a pobreza e com o pesadelo logístico de levar infra-estrutura, educação e saúde às comunidades rurais mais longínquas.

O foco para o qual devem convergir as forças políticas e sociais barrosenses deve ser menos o desafio de fazer a cidade crescer em termos físicos e mais o desafio de ampliar as capacidades dos cidadãos. O grande exemplo a ser seguido é o de Cingapura, um minúsculo país da Ásia (710km2) – menor em extensão territorial que Barbacena – que conseguiu um impressionante avanço em curtíssimo espaço de tempo. O país tem, hoje, um dos maiores índices de desenvolvimento humano, educação e renda per capita do mundo, apesar de seu tamanho. O caso de Cingapura é revelador das características da economia contemporânea, onde o que há de mais valioso é o capital humano. Se for o destino da cidade de Barroso crescer por caminhos como os da inovação, educação, tecnologia e sustentabilidade, o espaço que temos já é mais que suficiente.

por Antônio Claret

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