A disparada dos preços dos alimentos sacrifica o interior de Minas Gerais e eleva as previsões para o custo de vida num começo de ano, por tradição, carregado pelas despesas típicas com impostos e mensalidades escolares.
Em Uberlândia, no Triângulo, a inflação alcançou 3,80% de janeiro a novembro, tendo superado toda a variação em 2019 medida pelo Índice de Preços ao Consumidor (IPC) da Universidade Federal de Uberlândia (UFU).
A evolução foi maior, inclusive, que aquela apurada em Belo Horizonte, de 3,74% no mesmo período, de acordo com o Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) da Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas, Administrativas e Contábeis de Minas Gerais (Ipead), vinculada à UFMG.
A pressão sobre o orçamento das famílias também surpreende em Juiz de Fora, na Zona da Mata mineira, onde o custo da cesta básica de alimentos está 35,82% mais alto do que em 2019.
O reajuste da despesa essencial à mesa ultrapassou a remarcação de 33,53% sobre o ano passado das despesas com a cesta em BH, também pesquisada pela Fundação Ipead.
Os gastos somam R$ 500,02 na cidade, que é uma das mais importantes do interior de Minas, seguindo a uma distância nem tão larga assim para o valor de R$ 553,24 cotado na capital.
Inflados pelo frete no transporte de alimentos que saem da capital para abastecer o varejo de Montes Claros, os preços dos alimentos têm pesado no bolso do consumidor da cidade-polo do Norte do estado neste ano.
Os dados mais recentes da pesquisa da cesta básica, feita regularmente pela Unimontes, indicam que de janeiro a agosto a chamada ração essencial já havia encarecido 11,26%, enquanto em BH, nos mesmos meses, os alimentos básicos sofreram com reajuste de preços de 3,14%, em média.
A redução da oferta de alimentos no Brasil em 2020, devido à expansão dos embarques ao exterior, o que fez os preços dispararem no mercado interno, sacrifica, ainda, a população de Divinópolis, no Centro-Oeste de Minas. As despesas com os produtos essenciais de alimentação no município consumiram quase 43% do valor do salário mínimo (de R$ 1.045).
Parece pouco quando o percentual é comparado à fatia de 52,94% que a cesta básica leva, em BH, do piso salarial no país do mercado formal de trabalho, mas a população de Divinópolis tem se preocupado, da mesa forma, com os serviços mais caros.
Tanto é assim que a cabeleireira Janandreia Nunes, de 34 anos, se viu forçada a reduzir os preços pagos pelos clientes. “Não dava para cobrar o mesmo valor. Muita gente ficou devendo e não tinha nem como cobrar. Enquanto isso, os preços no supermercado ficaram sem noção”, reclama.
Há um conjunto de fatores, agravados pela pandemia de COVID-19, que explica as dificuldades das famílias para administrar as contas neste ano, de acordo com Ricardo Freguglia, professor de economia da Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF).
‘Exorbitantes’
Para o analista de suporte de redes Renato Zamboni, de 56, arroz, frios e frutas foram os produtos que mais encareceram em Juiz de Fora, e por isso, ele e a mulher, Adriane, precisaram mudar os hábitos de consumo.
Custo da cesta básica bate recorde em 2020
Esses serviços devem ser corrigidos em 2021, o que traz preocupação. De janeiro ao mês passado, o preço da cesta básica subiu, em média, 20%, puxado por itens como óleo de soja, cujo preço dobrou em 2020, e arroz, que sofreu reajuste de 79%.
Cidades pagam por ‘passeio da produção’
Os preços sobem e descem, sempre sujeitos a diversas situações, como a seca e a chuva. Se chove demais, complica. Se diminui a produção, com certeza o preço sobe.
Outro fator que influencia é a pequena produção de hortifrútis em Montes Claros, que impõe uma espécie de passeio dos alimentos até a chegada à mesa do consumidor. O abastecimento no município depende de itens que passam pelo entreposto da Ceasa Minas, em Contagem, na Grande Belo Horizonte, distante 416 quilômetros do município. A distância encarece os alimentos.