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À primeira vista, a prevenção para o combate ao câncer de mama é bem simples, basta realizar a mamografia. Entretanto, essa necessidade se torna um “calvário” quando a mulher tenta marcar o exame em Minas Gerais.

A demora para agendar o procedimento pelo Sistema Único de Saúde (SUS) e a má distribuição dos mamógrafos pelo Estado são alguns dos empecilhos que, muitas vezes, impossibilitam as mineiras que não têm planos de saúde de atender o que é preconizado pela campanha Outubro Rosa – dos 50 aos 69 anos, o exame deve ser realizado a cada dois anos.

Há casos em que é preciso percorrer distâncias de até 100 km para se encontrar um mamógrafo. Isso, depois de conseguir marcar o exame.

Especialistas apontam que apenas um terço das mineiras na faixa etária considerada de risco tem acesso à mamografia. Além disso, há poucos mamógrafos no Estado, são 709 equipamentos, mas somente 676 estão em uso, e eles estão mal distribuídos. Atualmente apenas 20,9% dos municípios mineiros possuem mamógrafos.

“Em Minas, temos cerca de 2,4 milhões de mulheres na faixa etária de 50 a 69 anos, que é a recomendada para fazer mamografia pelo Ministério da Saúde. Temos uma média de 75% de pacientes que dependem do sistema público, e 25% têm convênio. Sendo assim, em média mais ou menos 1,8 milhão de mulheres deveriam fazer a mamografia a cada dois anos. Em 2020 e 2021 foram cerca de 400 mil exames, ou seja, uma defasagem de 1,4 milhão de exames em dois anos, pelos dados do Instituto Nacional de Câncer”, explica a médica Annamaria Massahud, presidente da Sociedade Brasileira de Mastologia.

Além da distância, a médica Annamaria elenca outras questões que contribuem para o baixo número de mamografias realizadas no Estado: medo de sentir dor, receio da radiação, medo de descobrir a doença e a má distribuição dos mamógrafos por Minas Gerais, o que faz que um exame se torne uma viagem.

“Há uma má distribuição dos mamógrafos em Minas, mais de 15 microrregiões do Estado não têm o equipamento. Essa deficiência ocorre principalmente no Norte e Nordeste. Às vezes, o local mais próximo para a mulher fazer o exame fica a 100 km da casa dela. Muitas mulheres trabalham, e os exames são marcados de segunda-feira a sexta-feira, em horário comercial, o que dificulta. Além disso, tem a questão financeira do deslocamento, algumas pacientes dependem de carros da prefeitura para conseguir chegar até os outros municípios. Há mulheres que viajam até 500 km até Belo Horizonte para fazer prevenção e tratamento do câncer de mama”, destaca Annamaria.

Levando em consideração o dado da Secretaria de Estado de Saúde de Minas Gerais (SES-MG), o Estado tem 676 mamógrafos, sendo que apenas 126 são computadorizados, e 464 funcionam  por comando simples. Além disso, dos 853 municípios do Estado, apenas 179, ou seja 20,9%, têm mamógrafos. “Além da quantidade (insuficiente), temos muitos mamógrafos antigos na cidade, o que prejudica a qualidade dos exames”, complementa a médica. De acordo com a SES-MG por causa disso, são feitas parcerias com alguns municípios para que eles ofertem as mamografias.

“Importante pontuar que o serviço de mamografia necessita de escala e escopo para viabilidade de sua oferta assistencial, portanto não serão todos os municípios com necessidade de ter o equipamento. Por isso, há necessidade de que usuários de municípios com menor população se desloquem para a realização do exame. A SES-MG reforça que o Sistema Único de Saúde é fundamentado nos princípios da hierarquização, regionalização e descentralização político-administrativa aos municípios, uma vez que os gestores locais estão mais próximos do território e possuem maior conhecimento dos problemas e necessidades da população”, informou a secretária de Estado por nota.

O médico Guilherme Junqueira, que atua em hospitais de Belo Horizonte e da região metropolitana, corrobora a visão da colega. “Hoje vemos que há muitas cidades que não têm mamógrafos para realizar os exames, e os digitais e mais modernos vemos somente nos grandes centros”, destaca. Junqueira enfatiza que a prevenção é mesmo o principal meio de conter a doença, mas os entraves são muitos. “O SUS preconiza os exames a partir de 50 anos, mas hoje vemos uma curva de incidência de câncer de mama a partir de 40 anos. Outro problema que vejo é que não temos uma boa educação para os cuidados com a saúde; muitas pacientes só vão procurar o atendimento médico quando sentem algum sintoma, mas o agendamento na rede pública com os especialistas demora”, complementa.

Via O Tempo

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