“Médico igual ao Doutor João Pinto não tem. Anos atrás, meu neto chegou no Hospital como quem fosse dar o último suspiro, o Doutor João entubou ele e o mandou para a Santa Casa, em Barbacena. Hoje ele tem 12 anos. Foi Deus no céu e Doutor João na terra. Vou ser grato a ele pelo resto da vida”, essas são as palavras do internauta barrosense Enildo Gabriel Dias, nos comentários do Facebook do barrosoemdia, que resumem bem o que a população barrosense sente por Doutor João Pinto, conhecido na cidade e região, como o médico do povo.
Em meio à turbulência que vive o Hospital Prefeito Macedo Couto, com relação ao óbito de um adolescente de 12 anos, no último mês, 90% dos comentários apontam para uma direção: saudades do Doutor João Pinto. Logo após aquela notícia no barrosoemdia, as redes sociais, em sua grande maioria, citavam os feitos e as histórias que tinham como protagonista João Pinto. “Meu irmão tinha, na época, 16 anos de idade e passou mal com vômitos e dor abdominal. A gente levava ele para o Hospital, ele era medicado, a dor passava e ele voltava para casa. No outro dia, lá estávamos e ele com os mesmos sintomas: vômitos e dor abdominal. Até que ele foi examinado pelo Doutor João que pediu para ele levantar a perna e suspeitou de apendicite. Fez exames de sangue e constatou. Ele foi operado e se recuperou”, conta a internauta Cida Almeida que fez um comentário no Instagram @jornalbarrosoemdi sobre o diagnóstico do Doutor que “encostou”, tocou no paciente, gesto tão comum no passado e tão escasso na medicina atual.
Histórias e depoimentos não faltam. Doutor João, que passou mais tempo da sua vida no Hospital do que na própria casa, é um médico que, ao lado de tantos outros grandes profissionais da época, deixou um legado para o Hospital de Barroso: humanização. Daqueles médicos que primeiro atendia, depois, ao invés de dar o preço, estendia as mãos e abria o coração. “O João tinha tamanha dedicação que o início do nosso matrimônio foi muito difícil. A gente quase não se via. Ele passava mais tempo no Hospital do que com os próprios filhos”, diz Lúcia de Fátima Ferreira, primeira esposa de João, com quem teve dois fi-lhos, o atual vice-prefeito da cidade, o jornalista Eduardo Ferreira Pinto e o publicitário Rafael Ferreira Pinto, Analista de Markentig da Marluvas. “Para se ter uma ideia do tamanho da dedicação e envolvimento, uma vez, em um casamento aqui na cidade, nós éramos padrinhos do casal e todos já estavam na porta da igreja, prontos para entrar e o João não chegava. Até a noiva já tinha chegado e só faltava o João, mas como ele não chegou, tive que ser madrinha com uma outra pessoa”, conta Lúcia Ferreira que viveu ao lado de João por 4 anos e meio e vivenciou também muitas histórias do início da carreira do Doutor que foi abraçado por Barroso.
E COMO ESTÁ O DOUTOR JOÃO?
Diante de tantas citações e nostalgia, a reportagem do barrosoemdia, nesta edição especial de 19 anos de sua história, foi atrás da resposta que muitos barrosenses se perguntam neste momento: E como está o médico do povo? Qual o real estado de saúde do Doutor João Pinto?
Distante da vida pública desde 2020, quando perdeu a disputa eleitoral de Prefeito para o candidato Reinaldo Fonseca, João, que foi vereador por três mandatos (1989-1992 / 1997-2000 e 2001-2004) e vice-prefeito entre 2013-2016, foi diagnosticado, em 2021, há quatro anos, com Alzheimer, uma doença neurodegenerativa que afeta a memória, o pensamento e o comportamento das pessoas. “Em 2020 o João apresentou um quadro de déficit de memória, seguido de dificuldades executivas relacionadas ao trabalho, tendo sido necessário seu afastamento das atividades da medicina”, conta a atual esposa Vanessa de Cássia Oliveira Pinto, que vive e cuida, com muito amor, do esposo há 22 anos.
“Ele infelizmente não consegue mais recordar da maioria das pessoas, às vezes, entre um flash de memória e outro, ele até fala alguns nomes do passado, mas não tem mais capacidade para formular frases completas”, explica Vanessa, falando da intimidade de um homem que por anos e anos chegou a dissertar sobre três ou quatro assuntos em uma única conversa. “O meu nome ele não esquece, chama por mim. A qualquer hora e a qualquer momento ele solta um: Vanessa. Que assim continue”, diz a esposa graduada em direito, que ao lado do Cuidador Clayton Nonato da Silva, dedica sua vida a atender o médico do povo, o homem que por mais de 40 anos se dedicou a atender todos, sem distinção. “Tem pessoas que nos ajudam diariamente, como a Luana, nossa vizinha que me dá apoio desde o início”, diz Vanessa.
DADOS DA DOENÇA
No Brasil, estima-se que cerca de 1,2 milhão de pessoas tenham Alzheimer e que 100 mil novos casos sejam diagnosticados por ano. Em Barroso, segundo dados da Secretaria de Saúde, através da Subsecretária Tayara Silva, junto às Unidades de Saúde da cidade, são cerca de 50 casos da doença, ou seja, pessoas diagnosticadas com Alzheimer (os números podem oscilar), uma doença progressiva que destrói a memória e outras funções mentais vitais. Laudos e estudos médicos mostram que as conexões das células cerebrais e as próprias células se degeneram e morrem, eventualmente destruindo a memória e outras ações mentais importantes. Perda de memória e confusão são os principais sintomas. Até o momento, não existe cura, mas os medicamentos e as estratégias de controle podem melhorar os sintomas temporariamente.
E até que a medicina encontre uma solução para essa doença fatal e até então irreversível, a população de Barroso, cada um da sua forma, vai continuar lembrando das histórias imortalizadas pelo Doutor João Pinto, o homem que se tornou para muitos o médico do povo. “É triste e dói ver meu pai, o Doutor João, está enfrentando essa doença cruel. Ao mesmo tempo, a gente se apega no que ele fez e no carinho da população para continuar lutando”, conta Eduardo Pinto que, além de Rafael, tem mais quatro irmãos filhos do Doutor, Dalva, Gustavo, André e Nícolas.
João tem hoje a mesma idade de Bar- roso, 71 anos, que num passado não tão distante, era comemorado com a casa cheia de amigos de muitas partes do Brasil, com muita música e alegria. “É uma luta diária e Deus nos deu a Vanessa e tantos outros profissionais e amigos que nos ajudam a enfrentar essa batalha”, diz o vice-prefeito que ressalta o empenho de muitos familiares nesta luta. “O carinho das pessoas com ele, cada um da sua forma é o que nos dá forças”, diz Eduardo que lembra os tios Lalado, Gina e o saudoso Toninho Pinto.
O CORAÇÃO É O MESMO
O doutor, aquele mesmo doutor, que às vezes esbravejava em prol do Hospital de Barroso, ainda continua recebendo a visita de amigos, segue com o seu olhar atento e carismático, talvez não tenha a conexão necessária no seu cérebro para lembrar, refletir sobre isso ou aquilo, mas o seu coração, aquele mesmo coração que salvou vidas, está intacto, pulsando da mesma forma que pulsou pela medicina, pelo povo de Barroso. Palmas para Doutor João Pinto, o Médico do Povo.