Os números de vítimas da covid-19, doença decorrente do coronavírus, que lamentavelmente não param de crescer no Brasil e no mundo, apesar de avassaladores, são incomparáveis com as mortes decorrentes da Gripe Espanhola no mundo.
A doença do século passado ceifou entre 50 e 100 milhões de vidas, o que representa nada menos do que 5% da população mundial da época. Houve 500 milhões de indivíduos contaminados pelo vírus.
A violenta mutação do vírus da gripe veio a bordo do navio Demerara, procedente da Europa. Em setembro de 1918, sem saber que trazia o vírus, o transatlântico desembarcou passageiros infectados no Recife, em Salvador e no Rio de Janeiro.
Apesar do nome, a Gripe Espanhola não surgiu na Espanha. Na verdade, até hoje não se sabe ao certo qual o local de sua origem, mas diversos pesquisadores trabalham com a hipótese de que ela tenha se originado nos campos de treinamento militar dos Estados Unidos, em março de 1918.
BARROSO
Na época, segundo trabalho publicado pelo historiador Wellington Tibério, em seu blog, a Gripe Espanhola tomou conta do arraial e só saíram ilesas as famílias Souza e Meireles.
A população de Barroso em 1918, ainda segundo o historiador, era superior a mil habitantes e foi tratada com recursos da homeopatia. “Os irmãos Arthur Napoleão e José Pio se mostraram generosos, oferecendo aos adoentados leite e fubá”, diz trecho do blog intitulado Cidade dos Mortos.
Porém, apesar de todo o esforço realizado, somente nos meses de novembro e dezembro de 1918, de acordo com a publicação, foram notificados 23 óbitos nessa época. Números que superaram a média anual e registraram mais óbitos que todo o período de 1912 a 1919.
E mais, em recente post feito pelo historiador nas redes sociais, as informações são de que a atual Praça do Cruzeiro, construída em 1976, substituiu um cruzeiro de madeira e foi o local onde as vítimas da Gripe Espanhola foram sepultadas em Barroso.
“A Gripe Espanhola foi uma das maiores tragédias do século passado, com impacto em Barroso. A Praça do Cruzeiro é um monumento às vítimas desta epidemia e lamentavelmente não existe ali uma placa indicando este fato. A história se repete em muitos outros locais e aspectos, mas ainda não temos governos sensíveis com a memória”, declara Tibério.

BOM COMPORTAMENTO
Outro relato publicado sobre a Gripe Espanhola em Barroso pode ser encontrado no livro Subsídios para a História, de Geraldo Napoleão, primeiro prefeito de Barroso.
De acordo com o trecho do livro, a população de Barroso soube se portar muito bem durante a epidemia. “O povo mobilizado pela febre, não podia cuidar do seu sustento. Foi alimentado de mingau, com fubá fornecido por José Pio de Souza, e leite fornecido por Artur Napoleão. Tudo gratuitamente”, traz o livro.

OUTRAS EPIDEMIAS NA CIDADE
Segundo aponta ainda o historiador barrosense, tem se noticias, de pelo menos mais duas grandes epidemias que ceifaram vidas em Barroso. A primeira em 1879, que interrompeu o comércio de Barroso com São João del Rei, ocasião em que se construía a estrada de ferro, e, 1913 quando houve a intervenção da Câmara de Tiradentes, algumas medidas higiênicas foram recomendadas e o médico de São João del Rei, Doutor Fausto Neves, constantemente esteve visitando o arraial auxiliado pelo professor Arthur Mourão e o vereador Arthur Napoleão.
Alguns jornais da época chegaram a publicar a seguinte manchete:
“A varíola está grassando no Barroso”.