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Quando a italiana Philomena Vitta morreu em junho de 1902, em Barroso, Minas Gerais, ela fez um pedido em seu testamento: que seu filho, José Caetano, testamenteiro dela, mandasse celebrar 10 missas na igreja de Santa Maria della Pietra Santa, na Província de Salerno, cidade de San Giovanni a Piro, na Itália, em intenção da sua alma. Para isso, além de toda a partilha, Philomena, que não sabia ler e escrever, deixou 20 mil reis das celebrações separados, mas seu filho, por vários outros motivos, acabou gastando a quantia e não realizou o pedido de Philomena com relação às celebrações. No entanto, 121 anos depois, em agosto de 2023, a neta de José Caetano, Fátima Monteiro, que hoje é moradora de Barbacena, concretizou o pedido através da sua filha Ellen Monteiro, que hoje vive em Nápoles, na Itália. As missas começam a ser celebradas neste mês no velho mundo.

A história veio à tona depois que o historiador barrosense Eustáquio Silva fez o levantamento nos arquivos do Instituto do Património Histórico e Artístico Nacional (Iphan), em São João del Rei. O Instituto, de acordo com Eustáquio, tem um vasto acervo de inventários, testamentos e dados pessoais de cidadãos que vieram de outros países para cidades da região. “Na época o ‘Fórum’ era em Tiradentes ou São João, então, como se trata de documentos históricos, documentos que contam a história da região, o Iphan tem tudo arquivado”, diz Eustáquio que afirma que não só São João, mas também Barbacena, no arquivo Altair Savassi, há inventários e testamentos de moradores de Barroso. Diante das informações históricas levantadas, Eustáquio encontrou, através de ramos familiares de José Caetano, em Ibertioga, a filha Fátima e a sobrinha Alcimara. “Conversamos pessoalmente aqui em Barroso e quando contei a história, a Fátima disse que entraria em contato com a filha Ellen, que por coincidência mora na Itália, para que ela pudesse concretizar o pedido de Philomena”, declara o historiador que se emocionou com a atitude.

QUEM FOI?

Philomena Vitta Cobucci era filha de Giovanni Vitta e Anna Cobucci e assim como muitas famílias italianas, veio para o Brasil depois de fugir de inúmeras guerras. Ela chegou no Brasil, ao lado do filho Giuseppe Montano, aos 32 anos de idade, no famoso navio Vapor Belgrano, em 10 de Junho de 1876 no porto do Rio de Janeiro.  Outros familiares também vieram. Seu marido, Gaetano Montano, havia chegado 10 anos antes, em 1866, e já estava em Barroso. Ele foi buscá-la no porto, quando o fi-lho Giuseppe, que acabou se tornando José Caetano, mesmo nome do tio, teve a chance de conhecer o pai. Quando o pai saiu da Itália, ele era muito novo. E o casal se casou justamente na igreja da cidade de San Giovanni a Piro.

FAMILIARES

Aqui no Brasil, Philomena veio para Barroso com a família que são velhos conhecidos dos barrosenses, pois Montano é simplesmente a tradução para Monteiro, um velho sobrenome conhecido da cidade. Noé Caetano, irmão de José, é simplesmente o avô de Sebastião Monteiro, pai dos Monteiros que moraram por anos e anos na beira da linha, no chamado Rosário de Baixo.

INFLUÊNCIA
O que muitos não sabem é que o casal de italianos tinha ou teve grande influência na política local. Segundo Eustáquio Silva, eles possuíam uma residência chamada Fazenda do Retiro e tinham também uma casa no então Arraial de Sant’Ana do Barroso, onde foi realizada a primeira eleição no distrito em 1892, quando Joaquim Meireles, que hoje é nome de uma das principais ruas da cidade, foi eleito vereador pelo distrito do Barroso em Tiradentes. De fato um casal que teve grande importância não só na política, mas na história de Barroso. “Uma história oral conta que quando Dom Pedro II e Teresa Cristina vieram inaugurar a estrada de ferro Oeste de Minas, o casal de imigrantes Gaetano e Philomena saudaram suas majestades em italiano, algo raro no interior na época”, diz o historiador.

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