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Quantas vezes simulei uma dor de barriga ou de cabeça justamente pra não ter que ir pra escola… Quantas vezes dei esse perdido sem imaginar que estava me perdendo… A sorte, e competência, é que meus pais nunca acreditavam naquela simulação barata e me colocavam pra fora da cama num tapa: – Pra escola menino! Lembro daquela voz até hoje! O “pra escola” deles me trouxe pra vida, pro mundo do conhecimento, mesmo eu não querendo muito conhecer! Admito: não era muito fã da escola!

O grande dilema, caos da minha indignação, controvérsia das minas manhãs, era que a minha escola era mais que uma escola. A vida toda, como diz um bom mineiro, eu estudei no FAPI, aliás, eu estudei no FAPI, antes de ser FAPI, era só Colégio mesmo! Naquela época, apesar de ter outros, a gente estudava no Colégio, ainda não era FAPI. Já era o Francisco Antônio Pires, mas não era FAPI, era só Colégio. E o Colégio, aquele lugarzinho ali, no centro, do lado do meu coração e em frente à casa da Tia Elza, era mais que uma escola; era um ambiente, apesar de eu não gostar de estudar, encantador.

Tinha uma escada de poucos degraus que nos levava de cara com uma senhora com cara de poucos amigos. Me refiro à Petronília que procurava no branco da camisa algo que não fosse branco. E quando encontrava: – Não vai entrar! E não entrava. Não entrava por causa do branco e pouco depois via o vermelho nas pernas que ficavam marcadas com o número e marca do chinelo: Havaianas – 37 ou Rider – 39. Eu preferia a Havaianas.

Me sentia em casa, me sentia mesmo. Além de ser de frente pra uma tia, tinha uma outra, mais experiente e com os cabelos brancos que atendia pelo nome de Tia Geni que era um doce, até pra tocar o sinal do recreio. Ela fazia cera, deixava a gente curtir na outra escadaria, de frente pra cantina, um pouquinho mais. Aliás, naquela outra escadaria que dava para o portão do fundo, a gente brincou, fugiu, paquerou, fugiu, namorou escondido, fugiu, sorriu, fugiu, chorou e entrou na fila da merenda duas ou mais vezes. Eu preferia arroz marimbondo. O biscoito com café não era bom e o arroz doce tinha muita canela. Bom mesmo era o arroz marimbondo. Agora, em matéria de iguaria, quando a gente podia, e isso era raro, muito raro, a gente saía da sala de aula, atravessava todo o pátio e gritava pra todo mundo ouvir: Quero um pão doce na chapa! Sinceramente: eu me achava quando isso acontecia: – Quero um pão doce na chapa! Mas era raro ter R$1,25, muito raro.

Era um mundo encantado, genuíno e verdadeiro. Quando nossa sala jogava contra o terceiro ano, “os caras tudo mais velho”, a gente disputava nossa final de Copa do Mundo. Ganhar dos caras no recreio e voltar todo suado e sujo pro quarto horário era a maior conquista da semana. É verdade que às vezes o coqueiro que ficava no meio do campo atrapalhava, mas a gente insistia. Quando não dava na bola, a gente ia pro vôlei. A corda ficava esticada e a gente era tão profissional que via até toque na rede, sem ter rede. Bons tempos, foi onde acreditei que sabia jogar vôlei.

Já explodimos o banheiro, quase matamos uma serviçal, explodimos o sinal, e, diante de tanta falta de educação, nos explodimos. Sim, só eu mesmo fiz um hat-trick no Colégio. É porque o Tadeu Schmidt não existia, porque senão podia pedir música no Fantástico. Foram três bombas, três explosões que me fizeram aprender, na marra, o verbo to-be, que a Maria Antônia sempre soletrava.

Que saudade do Colégio! Foi lá, de tanto insistirem comigo, que acabei de fato me tornando alguém. Aprendi com Lucinha, Miriam, Saulo, tentei aprender com Zé Antônio, Sirley, Bárbara, Sandra, Rosinha, Meire, Livramento, Jorge, Iracema, Natanael e o eterno mestre Epifânio, mais que professor. E lógico, a Leila com quem, de tanto escolher minhas redações, aprendi a passar toda bagunça para o papel e me tornar um profissional. Obrigado, professores e desculpem pelas piadas. Espero não ter faltado com o respeito.

Aos amigos de Colégio, que já se foram e que continuam entre nós, meu eterno abraço em pleno 76 anos de FAPI. Agradeço à Erika por dançar quadrilha comigo, mesmo eu não sabendo dançar, ao Dedé, vulgo Albertino, e ao Luciano Albino, que faziam parte da minha equipe de transmissão de jogos de futebol dentro da sala de aula, à Lígia e à Silvana por me ajudarem a decorar Faroeste Caboclo, à Flávia e ao Max pelas encenações na Feira Cultural, aos oponentes das brigas no recreio e de fora do Colégio, aos Marcelos, ao Ângelo, ao Josimar, ao Zé Tela, que fez parte do maior plano de cola da história do FAPI, enfim, impossível citar todos e possível deixar de fora amigos como Ronan, Gian, Marlon e tantos outros. Que saudade!

O FAPI completa hoje 76 anos, mas a saudade mesmo é do Colégio onde as briguinhas terminavam na fonte, com todo mundo se molhando e muito amor demonstrado nas capas dos cadernos que tinham fotos da Legião Urbana e do Ayrton Senna. Que saudade do Francisco Antônio Pires, do FAPI e do Colégio, uma estrutura gigante que transformou meninos em homens e fez com que muitos barrosenses conseguissem e seguissem uma profissão.

Parabéns, FAPI, mais muitos 76!

2 Comentários

  1. Daria um filme. Uma música talvez, tipo “faroeste de caboclo”. Em que todos tínhamos um pouquinho de João de Santo Cristo. Entre malvadezas e bondades, só queríamos viver bem o melhor da vida.

  2. Caramba meu amigo !!! Isso não foi só um texto mas sim um roteiro de um filme , fez me voltar naquela época que saudade PARABÉNS !!! OBRIGADO POR LEMBRAR DO SEU AMIGO !!!! SHOW !!!! TMJ !!!

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