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Eu estava de mãos dadas com meus avós, com alguns amigos, mas aquela corrente de positividade diante daquela tv de caixote surrada durou poucos segundos. Logo após a Seleção Brasileira desperdiçar, assim como a Itália, o primeiro pênalti, eu me desprendi daquela fé adolescente, soltei as mãos calejadas da vovó e corri para fora da casa, onde esperávamos ansiosos, desde 1970, a conquista de mais uma Copa do Mundo.

Lá fora, como todo o Brasil, que naquela época era sim o pais do futebol, tinha um campinho, com traves de bambu. Sozinho, em meio aquele campo sem marcação, na chamada Beira da Linha, parte debaixo do Bairro do Rosário, na minha amada Barroso do interior de Minas Gerais, me recordo de ficar correndo de fora das casas dos vizinhos, onde, automaticamente fazia as contas através dos gritos, ou seja, se o Brasil converter o pênalti temos euforia, caso seja os italianos, teremos silêncio.

Assim, inquieto, lembrando o choro de 90 e puxando meus cabelos como se fora os de Caniggia, pedia aos céus que vovô, já com seus surrados joelhos, tivesse a oportunidade de ver, mais uma vez, ele viu em 58, 62 e 70, a seleção levantar a taça que até então eu, nem a maioria dos primos presentes, não conhecíamos.

Na sequência clichê, continue somando pelos gritos, cheguei a conclusão de que era a vez da Itália, imaginei que teríamos o silêncio e consequentemente o grito de Tetra que viria pelos pés de Bebeto, que bateria o último pênalti da Seleção naquela decisão de 94. Assim, mais uma vez, ajoelhei na imaginável marca do pênalti do nosso campinho, e abri os braços. Porém, ao invés do silêncio, o maior e melhor grito que escutei em toda minha vida, o grito do Tetra. Confuso na minha conta sonora, vi a multidão da Beira da Linha sair de suas casas rumo o campinho onde eu até então era o único titular daquele time receoso de perder o título.

Me recordo, 30 anos depois, de ver os amigos de futebol da época, correrem rumo as traves de bambu e em um gesto sem consciência alguma, quebrar todos elas como forma de desabafo, de libertação, de quem esperou 30 anos (1970-1994) pelo tão sonhado título, o tetracampeonato que veio numa tarde/noite de domingo do dia 17 de julho.

Já na rua, em meio ao centro e uma multidão possessa, jamais vista naquela época, as lembranças são vagas e desconexas por razões óbvias da adolescência. Lembro-me de um goleiro da cidade segurando o quadro de Taffarel, definitivamente herói nacional. Lembro da garota que me apaixonei mesmo ainda sem saber o que era paixão e me não me esqueço de ver tanta gente, diferente, sorrindo pelo mesmo motivo.

Era onde eu estava há 30 anos!

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