Sempre quando ele saía chorando (pipipipi), depois de ter aprontado, entrava na sua casa, um barril onde só cabiam sua alma e sua ingenuidade, e eu tinha certeza de que ele voltaria e faria tudo igual, tudo de novo, mais do mesmo, mas era aquilo que nos mantinha ali na sala, juntos, como se fora hora do almoço, como não existe mais.
Só que dessa vez ele não voltou e, para o desespero de milhões de fãs, ele não vai voltar. Chaves entrou no seu barril pela última vez e, sem querer querendo, chegou ao céu. Atravessou gerações, conquistou corações do Brasil e do mundo, sem passar na tela da Globo, e adentrou as nuvens do paraíso, que pode e deve ser parecido com a sua Vila.
E agora? Quem vai receber o Senhor Barriga com uma cacetada? Quem vai enlouquecer o Senhor Madruga? Quem vai desafiar o Professor Girafales e a Dona Florinda, brigar com a Chiquinha e com o Kiko e desrespeitar a Bruxa do 71? E agora, quem poderá nos defender?
Nem mesmo um super-herói desastrado, vestido de vermelho e amarelo, com antenas tortas na cabeça, que atende pelo codinome de Chapolin Colorado, poderá nos atender. É que foi feita a vontade de Deus. Talvez o céu estivesse meio sem graça como essa chuva e esse céu cinzento. Talvez fosse hora de espalhar alegria entre os Santos. Talvez o “menino” solitário, que se escondia em um barril, possa encontrar seus pais, sua família ou uma nuvem mais aconchegante. Um lugar onde possam ter mais paciência com ele.
Não chora o México, seu país, chora o Mundo, ou todo mundo que acreditava na ingenuidade de uma criança que vivera sozinha por décadas e décadas. Nos fez chorar pela sua solidão e nos fez rir sem soletrar um só palavrão, de manhã, de noite ou a hora que o Sistema Brasileiro de Televisão quisesse. Morre um pouco da nossa infância que lá do quarto ouvia e corria para a sala: Lá vem o Chaves, Chaves, Chaves, com uma historinha bem gostosa de se ver.
Que pena, que dor, que perda. A trilha sonora mudou, o verbo trocou, o programa acabou: Lá vai, lá vai o Chaves, Chaves, Chaves. Segure se quiser, mas se não se importar, chore como ele: Pipipipipipipipipi….
Ou então, se preferir, vamos enxugar as lágrimas, isso, isso, isso, relembrar a nossa infância e acreditar, ingenuamente, que Chaves não morreu, ele realizou seu sonho: foi para Acapulco!
Sigam-no os bons!
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