Interessante a experiência por que passei dia desses, diante do espelho. Ao me olhar, como em tantos outros dias de minha vida, me dei conta de verificar os primeiros cabelos brancos nas laterais da cabeça, bem como também as primeiras barbas sem cor. E então fui obrigado a refletir que, realmente, a vida não para. Há pouco, bem pouco tempo atrás, éramos crianças preocupadas apenas em acordar e brincar o dia todo. Depois, as preocupações passaram a ser as baladas, as gincanas, as festas da cidade. Com o tempo, as preocupações passaram a ser as dos “vinte e poucos anos” ou seja, muita farra, sem tanta preocupação com a seriedade da vida.
Mas o que me chamou a atenção, de verdade, não foi necessariamente ter que fazer esse “exame de consciência” que sempre chega para nós, geralmente, perto dos trinta. O que me chamou a atenção é que, como vivemos em uma sociedade cada vez mais preocupada em manter-se jovem, em manter-se novo, em manter-se extremamente belo, me interroguei se as pessoas, por conta dessas circunstâncias, ainda se permitem fazer todo esse exercício de pensar a vida.
É assustador o fato de estarmos no país vice campeão mundial em cirurgias plásticas, com tantas pessoas que realmente cultuam o corpo, que fazem dietas malucas, tudo isso para “parecerem” mais jovens. E a questão física nem é o grande problema. O cerne da questão vem no impacto psicológico dessa “forçação de barra”. Observar os primeiros cabelos brancos, as primeiras rugas, as primeiras limitações do corpo, é tão saudável quanto a atividade física benéfica. Reconhecer-se envelhecendo é uma fase necessária de todo ser vivo, mas nossa sociedade vende a ideia de sermos eternamente lindos, sem defeitos, sem velhices, perfeitamente imortais.
As pessoas perderam a capacidade de se enxergarem envelhecidas, perderam a sensibilidade de encarar a única certeza da vida: que envelhecemos e, um dia morremos. E, certamente, por conta da perda dessa sensibilidade é que as coisas andam do jeito que andam. Conceber-se eterno, sempre lindo e feliz faz com que o ser humano negligencie os valores da maturidade como a tolerância, o perdão, a tranqüilidade, a certeza de ser finito.
É impossível, nessa reflexão, não me lembrar da música do eterno Titã Nando Reis que diz : “É bom olhar pra trás, e admirar a vida que soubemos fazer”. Na verdade, Nando, mais que bom, é necessário olhar pra trás, mesmo que nesse exercício não admiremos tanto a vida que soubemos fazer.
Que nesse mundo que, a cada dia mais, valoriza como “eternas” as coisas que passam, sejamos capazes e corajosos de escolher viver as coisas que não passam e, com isso, saiamos da ilusão de uma eternidade que no fim, tem um fim.
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