Têm brinquedos pela sala, pelo quarto, no corredor, tem brinquedo por toda parte, esparramados alí pelo chão e até no banheiro, em meio a banheira. Em todo lugar, têm brinquedos. E que bom que têm brinquedos por toda casa, pela varanda, pela horta, que bom que tem, e que têm muitos brinquedos.
Porque ter brinquedos, bagunçando todo o ambiente, quer dizer muito mais que o simples fato de ter brinquedos. Essa obra de arte, que inclui paredes rabiscadas, lápis pelos cantos, bobygood na mesa, stitch na tela da tv, geladeira em cima da geladeira e mão de gordura no vidro, significa alegria, sinônimo de casa feliz, de risos, choros, berros que sejam, mas significa vida.
Ter brinquedos é uma conquista, uma vitória, um sonho que nos leva de volta àquele tempo que não mais lembramos, aquele de criança, onde a pureza conduz e abre caminhos através de sorrisos e olhares sinceros e genuínos. Mesmo quando adultos, já ranzinzas e mal-humorados pelo fato de estarmos de mal com a vida dia sim, dia não, é um momento único, poder revisitar nosso próprio passado através de nossos filhos, sobrinhos, netos ou qualquer outro parentesco que nos leve aquele momento mágico da infância, onde, no nosso íntimo e cantinho ali pela casa construímos nosso mundo, sem brigas, guerras e tolices dos adultos perdidos pela vida insana do chamado cotidiano.
É bom ser criança de novo, fazer barulhos com a boca, balbuciar ingenuidades, soletrar palavras desconexas e dividi-las em sílabas com o intuito de aprender a falar. Como é bom puxar aquele carrinho, imitar aquele som de cavalo, de sirene, ser leão, cachorro, cavalo, um zoológico inteiro e ir ao médico sem preocupar. Como é bom tomar injeção sem sentir dor, abrir uma loja e fechar em segundos, entornar suco na mesa e fazer do líquido derramado um rio onde as formigas estão nadando e se divertindo. Como é bom usar a imaginação de novo, ser filhinho sendo pai, sendo super-herói, sem capa e sem poderes, transformar um balde em um bolo num simples piscar, apagar e ligar a luz sem se preocupar com a lâmpada ou com o preço da conta.
Que mundo, que lugar, que vontade de voltar e estar, ficar, congelar nesse habitat, de pureza, de razão, de amor incondicional e esperança eterna.
Que Deus nos abençoe e abençoe nossas crianças!
por Bruno Ferreira