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“Do futuro és cidade esperança, feita em cal, em cimento, em amor”. A letra do Hino de Bar-roso, escrita pelo professor e colunista Paulo Terra, que se tornou Hino Oficial da cidade, pelo Decreto número 240 de 15 de junho de 1969, precisa ser reformulada. Desde o final de 2013, a cidade de Barroso não produz mais cal hidratada, já que a produção de cal virgem ocorreu até o início da década de 90. O fim para a tradicional produção do município, aliás, a mais antiga produção dos barrosenses, datada, segundo o historiador Wellington Tibério, de 1831. “Naquele tempo, ainda usavam os escravos para produzirem a cal em Barroso”, diz o historiador que também traz nesta edição do jornal, na coluna Fundo do Baú, um breve histórico das caieiras na cidade.

Mas o fim da produção veio através de um comunicado da empresa Iclair Graçano e Castro Ltda., a Fábrica de Cal Santo Antônio, que declarou encerrada a produção em decorrência de vários problemas estruturais e mercadológicos. “Inclusive a produção da cal virgem já não existe desde o começo da década de 90. E agora, resolvemos também dar fim à produção da cal hidratada, por diversos motivos”, declara o sócio-gerente Rubem Geraldo de Castro, o Rubinho, que sempre priorizou a ética, transparência e responsabilidade à frente da empresa, que ao lado do sogro Iclair Graçano, o Toti-nho, fez história na cidade. “Isso não quer dizer que não vendemos cal, temos aqui uma parceria exclusiva com a Mineração Belocal, fabricante da Cal Hidratada Tradical, do Grupo Lhoist, uma companhia internacional com mais de 120 anos de experiência”, diz o empresário barrosense que lamenta o fim da hidratação e hoje faz apenas a distribuição da referida cal hidratada em Barroso e Região. “Boa parte de uma vida ligada à cal. Realmente é triste, mas com as inovações e com as inúmeras exigências é quase impossível continuar produzindo cal virgem ou hidratada em Barroso”, diz Rubinho que administra uma empresa, que na medida do possível, ajudava os seus funcionários na construção ou aquisição da casa própria.

A conhecida Caieira do Totinho, que funciona desde 1963 às margens da BR265, perto do trevo da cidade, ainda mantém os antigos fornos de barranco para produção da cal virgem, possuindo ainda amostras de embalagens utilizadas no ensaque da cal hidratada que eram produzidas no local e exportadas para toda a região, grande parte da Zona da Mata e região serrana do estado do Rio de Janeiro. A Companhia Mineira de Papel de Cataguases, da antiga Matarazzo, até a década de 90, era uma das principais consumidoras da época.

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A CAL

Resultante da combustão (calcinação/ queima do calcário), a cal, é uma das substâncias mais importantes para a indústria e já foi a maior fonte de renda do município de Barroso. A chamada cal virgem deixou de ser produzida na cidade no início da década de 90, entre outros motivos, por ter que ser adequada às normas de produção da Fundação Estadual do Meio Ambiente (FEAM). Segundo relatos, os produtos usados para aquecer os fornos, principalmente os resultantes de derivados do petróleo (aparas de pneus, pelotas de carbono, entre outros), além de grandes poluidores ambientais, poderiam também trazer complicações à saúde. Inclusive, a última empresa, que até então funcionava na parte baixa do bairro do Rosário, devido a muitas reclamações, passou a funcionar no chamado povoado do 58 e pouco depois deixou de produzir, colocando fim à produção da cal “virgem” em Barroso, que já teve mais de 30 empresas concorrentes ao longo do tempo, seja na produção da virgem ou da hidratada.

“É com pesar, mas é certo afirmar que Barroso não é mais feita em cal, em cimento, em amor, como preza o belíssimo hino da cidade, escrito pelo adorável Paulo Terra. Mas o importante é que foi feita e muitas famílias fizeram a vida através da cal e sempre continuarão criando e crescendo através do amor, e por enquanto, e espero por muito tempo, do cimento”, finaliza Tibério.

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