Das vidraças que separam os corredores dos leitos da Unidade de Terapia Intensiva (UTI) na Santa Casa de Belo Horizonte é possível observar a vulnerabilidade de idosos, adultos e jovens que precisaram ser hospitalizados após infecções graves pela Covid-19 desde o início de janeiro, com a transmissão em ritmo acelerado da variante ômicron. Há pacientes que necessitaram de internação, mesmo com esquema vacinal completo, devido a doenças preexistentes. Mas a maioria foi por não confiar na eficácia das vacinas.
“Todos eles, pacientes e familiares, me trazem uma culpa muito grande se questionando o porquê de não terem se vacinado e se a vacina os livraria da internação”, conta a psicóloga Daniela Pacheco, entre uma videochamada e outra com familiares de pessoas sob cuidados médicos na UTI.
No Estado, a estimativa é que 80% dos internados após a contaminação, em janeiro, não tinham registro de vacinação. “Agora, eles dão outro significado para a vacina. Toda a confusão que a política fez na cabeça dessas pessoas as motivou a ir para um lado ou outro da história. E agora, internadas, estão na posição do doente que precisa do recurso da ciência”, observa Daniela.
Além do risco à própria vida, não se imunizar contribui para a transmissão mais acelerada do vírus e o surgimento de novas variantes, que podem representar para o sistema de saúde o mesmo cenário vivenciado com a ômicron: alta taxa de positivados pela Covid-19 e sobrecarga nos hospitais. “Tivemos um momento, no ano passado, em que achamos que poderíamos respirar com a vacinação, mas estamos vendo os números aumentarem novamente. É um período de bastante cansaço”, diz a médica intensivista Fernanda Caputo.
A fadiga é fruto de um aumento de diagnósticos observado em todo o Brasil. Em Minas Gerais, janeiro já foi responsável por mais casos de Covid-19 do que todo o segundo semestre de 2021. “No início do mês, tínhamos quatro pacientes positivos, e agora são quase cem”, conta a enfermeira Camila Rodrigues Souza.
Os 49 leitos de enfermaria destinados a pacientes de Covid não ficam vazios. “A cada nova onda a gente se questiona se vai dar conta. As pessoas perderam o medo da doença e não entendem que não é só a vida delas que muda”, lamenta Camila.
Mesmo com o trabalho intenso em janeiro, o tratamento tem exigido menos recursos que em fases anteriores da pandemia. “Quem evolui para quadro grave são pacientes não vacinados, com comorbidades e jovens de 35 a 60 anos”, observou.
Informações: O Tempo