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Há algumas semanas o historiador barrosense Eustáquio Silva publicou nas suas redes sociais uma nota do final do século XIX (6 de julho de 1880) do jornal Arauto de Minas de São João del Rei. Nessa nota, o empresário José Antônio de Almeida, reconhecido com “um dos empresários da navegação do Rio das Mortes”, informava que estaria aceitando encomendas de Barroso para São João del Rei e para o interior da província tão logo fosse inaugurada ali (em Barroso) a Estação de Ferro do Oeste. Essa incrível história do passado nos ajuda a refletir sobre nosso presente e sobre nosso futuro e especialmente sobre os temas da economia e do meio ambiente.

Na mesma nota o empresário informava que utilizaria, provisoriamente, barcos à remo, até a chegada do rebocador à vapor que seria importado dos Estados Unidos. Segundo a também historiadora barrosense, Ana Maria de Souza, a estação em Barroso foi inaugurada em 1880 e a estação em São João del Rei foi inaugurada em 1881. É provável (e aqui eu estou especulando) que o negócio da navegação do Rio das Mortes não tenha sido capaz de enfrentar a concorrência da estrada de ferro. Dado o curto espaço de tempo (1 ano) entre as inaugurações das estações, talvez o barco à vapor sequer tenha sido importado dos Estados Unidos (deixo aqui esse desafio para nossos historiadores: descobrir mais sobre esse pedaço da nossa história).

O que hoje sabemos é que a navegação no Rio das Mortes foi substituída integralmente pelo transporte via estrada de ferro, provavelmente ainda no século XIX. Sabemos também que, um século mais tarde, na década de 1980, o transporte ferroviário na nossa região viria a ser integralmente substituído pelo rodoviário. Sem querer incorrer no erro do anacronismo, que significa julgar as ações do passado com os olhos e conhecimentos do presente, não há como não lamentar o fato de não termos hoje todos esses modais de transporte coexistindo na nossa região. A ciência logística nos ensina que o ideal é termos sinergia entre modais, que eles possam coexistir em harmonia. Assim, não seria incrível se tivéssemos hoje por aqui, ao mesmo tempo, as opções de transporte ferroviária, rodoviária e fluvial?

A Câmara de Barroso discute na próxima segunda-feira (28 de outubro) o tema da degradação ambiental do Rio das Mortes. Dentre todos os obstáculos para – quem sabe no futuro? – termos de volta opções de navegação no Rio das Mortes, o mais importante deles é o ambiental. O nosso rio encontra-se em estágio avançado de degradação. As nossas cidades hoje ainda despejam o esgoto (residencial e, algumas vezes, até industrial) in natura no rio e o nosso desenvolvimento econômico nos últimos 100 anos se deu de forma a eliminar as florestas e a mata ciliar que protegia o rio. Hoje, o Rio das Mortes encontra-se tão assoreado que, em algumas partes, é possível atravessá-lo normalmente caminhando ou de carro.

Para que possamos mudar essa realidade será preciso muito debate e muita ação. Um Rio das Mortes vivo, com foi no passado, poderia transformar Barroso e região para muito melhor. Não só desenvolvendo a economia e servindo de meio de transporte para cargas e pessoas, mas, principalmente, servindo de meio de saúde e qualidade de vida para nós e para as outras espécies.    

Reportagem do Jornal Arauto de Minas (1880)

por Antônio Claret

Para ler outros textos do autor acesse: https://antonioclaret.com/

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