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Nossa cidade completa hoje 66 anos de emancipação político-administrativa e a data nos convida à reflexão. A pergunta, nada simples, mas que vale a pena fazermos é: o quão emancipados, política e administrativamente, nós realmente somos?

O Relatório Administrativo de nosso primeiro Prefeito, Geraldo Napoleão de Souza, no ano de 1956, nos dá uma boa mostra dos desafios que a Barroso, que acabara de nascer como cidade, enfrentava naquele momento. O Relatório registra, na página 14, que “a quota prevista no Artigo 20 da Constituição Federal (…) não foi arrecadada pelo fato de não estar o nosso Estado cumprindo esse dispositivo legal, com reais prejuízos para o Município que já é credor do Estado em mais de Cr$ 3.000.000,00 (cerca de R$1.300.000,00 em valores atuais)”*. A arrecadação total da prefeitura naquele ano foi de Cr$ 3.143.229,50, pouco mais de um milhão de reais em valores atuais e quase a mesma quantia da dívida do Governo do Estado.

Nas últimas 6 décadas as receitas municipais cresceram quase 50 vezes, porém cresceu também e de forma vertiginosa a nossa população e as demandas sociais. A atual gestão do Prefeito Reinaldo Fonseca (2017-2020) encontrou um cenário municipal, mas também estadual e nacional, muito precários. A história se repete e a realidade da nossa administração pública hoje é muito parecida com aquela de mais de meio século atrás. O orçamento encontra-se quase totalmente comprometido e o Governo do Estado deve muito ao nosso município.

A nossa história é repleta de altos e baixos. Nós tivemos momentos no passado ainda mais precários que o atual, inclusive com salários do funcionalismo público atrasados. Por outro lado, tivemos também momentos de bonança e grande fortuna. Tivemos momentos administrativos conscientes e criativos nos momentos de crise, mas tivemos igualmente momentos perdulários com os cofres cheios. Como consequência das nossas escolhas do passado, nós temos hoje que enfrentar as tormentas do mundo contemporâneo com uma prefeitura que não só – e mais uma vez – é credora do Estado, mas que carrega uma dívida em precatórios que vem de longa data e que ainda deve se arrastar por bastante tempo.  

Barroso vai bem quando Minas e o Brasil vão bem e vai mal quando o estado e o país vão mal. Logo, se somos tão dependentes assim dos cenários econômicos externos e dos repasses hierárquicos das demais esferas de governo, podemos concluir que não somos (ainda) tão emancipados como gostaríamos. Para uma independência de fato falta a nós aprendermos a equalizar não só receitas e despesas, mas também passado, presente e futuro. O próximo boom econômico há de chegar e quando ele chegar precisamos estar preparados para fazer diferente. Precisamos pensar menos nas grandes obras – aquelas que “dão voto” – e pensar mais em aprimorar nossa educação e nosso capital humano. Precisamos refletir sobre a criação de um fundo soberano, precisamos criar um colchão financeiro para que os “altos” não sejam de gastança desenfreada e para que os “baixos” não sejam de penúria absoluta. Em suma, precisamos, nos próximos 66 anos, pensar mais nas próximas gerações e menos nas próximas eleições.   

por Antônio Claret

Para ler outros textos do autor acesse antonioclaret.com

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