Compartilhe:

as

Valdeci Gonçalves Ribeiro, de 25 anos, morreu vítima de hemorragia interna. É o que mostra a declaração de óbito da necropsia do corpo realizada no Instituto Médico Legal (IML), de São João del Rei. O documento apresentado à reportagem do jornal Barroso EM DIA pelo irmão de Valdeci, Ailton José Ribeiro, 32, traz ainda detalhes da causa da morte: choque hipovolêmico, conhecido também como choque hemorrágico, lacerações de fígado e hematomas de fígado e baço.

“Eu não sou médico, mas também não sou burro. Meu irmão foi espancado até a morte. Não tenho nenhuma dúvida. Vi o corpo dele no necrotério, todo roxo, principalmente na região das costas, perto da cintura. Bateram muito nele, até matar”, declara o irmão que vai procurar a justiça para provar a morte por espancamento pelos policiais envolvidos. De acordo com a Aílton, Valdeci tinha sim uma série de problemas mentais, mas não era nenhum bandido, assassino. “Ele precisava de uma internação, de cuidados, de médicos, enfim, ele era mesmo doente, mas não era nenhum assassino para morrer dessa forma. Barroso precisa saber o que realmente aconteceu”, explica.

Os quatro policias envolvidos na ação militar, que resultou na morte do cidadão Valdeci, estão detidos no 38º Batalhão de São João del Rei. Foi lavrado o alto de prisão em flagrante dos Soldados  Prates, Nascimento, Renato e do Cabo Tavares ainda na tarde da segunda-feira (25). Eles aguardam julgamento da justiça militar na cidade vizinha.

A Polícia Militar liberou, na tarde da terça-feira (26), o Boletim de Ocorrência (B.O), que traz em detalhes a ação da PM na manhã da segunda-feira (25). Valdeci morreu a caminho do Hospital.

De acordo com o B.O., a PM foi acionada naquela manhã chuvosa em frente ao Almoxarifado da Prefeitura, onde Valdeci estava de posse de uma faca e tentava contra a vida de outro cidadão, no B.O., reconhecido pelas iniciais G.A.S. Antes mesmo da viatura chegar ao local, o B.O. cita que os policias reconheceram Valdeci e seus problemas mentais. “… o qual sofre de transtornos psiquiátricos, possuindo vários registros de natureza variada relativos à sua insanidade mental…”, trecho do documento policial que também narra que o cidadão estava aparentemente desorientado, caminhando sentido bairro Joaquim Gabriel de Souza, o Guede. Diante da situação os policias deram ordem de parada, determinando que o mesmo jogasse a faca no chão e colocasse as mãos posicionadas na cabeça. Entretanto, segundo o B.O, o cidadão ainda nervoso, contraindo fortemente as mãos e os dentes não acatou as ordens policiais, caminhando rapidamente em direção ao Soldado da PM Prates que, de posse do armamento espingarda Calibre 12, mediante a iminente ameaça à vida se viu obrigado a utilizar instrumento de menor potencial ofensivo, tiro de borracha, desferido um disparo em direção ao cidadão, porém não acertando o projétil.

Em continuidade, ainda de acordo com o documento da PM, o cidadão investiu contra o militar, golpeando-o com a faca na altura do pescoço, sendo necessário que este se esquivasse para não ser lesionado. Diante da ação o Cabo PM Tavares utilizou de técnicas de contenção (bastão tonfa), a fim de conter a injusta agressão. Mesmo assim, o cidadão iniciou fuga sentido rua dona Emília, descendo por toda sua extensão, entrando na rua dona Terezinha Meireles, ocasião em que foi interceptado pela viatura sendo lhe dada nova ordem de parada. Neste momento, o cidadão teria desferido novos golpes com a faca em direção ao pescoço de outro Soldado da PM, Soldado Nascimento, que se encontrava ainda no interior da viatura, sendo que o militar se defendeu com o braço esquerdo, vindo a arma atingir-lhe, causando corte contuso próximo ao pulso esquerdo. Dessa forma, o Soldado PM Renato, de posse do armamento PT40, realizou um novo disparo em direção ao infrator, porém não acertando. Uma nova fuga: o infrator correu sentido rua dona Cici, sendo interceptado por outra viatura, momento em que foi novamente dada ordem para que colocasse a faca no solo, tendo este não acatado às ordens, investindo novamente contra os militares, sendo necessário realizar novo disparo com a arma Calibre 12, tiro de borracha, pelo Cabo Tavares, além da utilização do bastão tonfa e técnicas de imobilização por parte dos outros policiais. Todavia, ainda muito alterado, segundo o relato dos policias, Valdeci resistia a todo o momento a prisão, sendo necessário utilizar as algemas para imobilização. Após, enfim, a contenção do infrator, o militar ferido Nascimento foi rapidamente encaminhado pela viatura para o hospital Macedo Couto. Diante dos fatos, foi dada voz de prisão em flagrante delito ao autor por tentar contra a vida dos militares e a vida da vitima G.A.S, devido a indisponibilidade de viatura com compartimento fechado, autor e vitima foram encaminhados para a sede do 2º Pelotão da PM, a fim de evitar novo atrito, registro e futuro encaminhamento para o hospital.

Os momentos mais dramáticos do B.O. estão citados durante a confecção de um documento policial, quando o autor Valdeci, ainda muito exaltado, teria sob guarda do SD PM Renato, começado a passar mal. “…tremulo, se debatendo, babando em suas vestes, foi realizado contato com os militares que estavam no hospital para que estes retornassem ao pelotão e encaminhasse o autor para a unidade de saúde. Ele se apresentava sonolento, pouco reflexo sendo encaminhado rapidamente, porém, este durante o percurso não resistiu vindo a óbito naquele nosocômio… “trechos do B.O. da PM fornecido a reportagem do jornal Barroso EM DIA.

O documento traz ainda, que posteriormente, em contato com a vítima G.A.S, a mesma teria  relatado, ou seja a PM, que foi abordado pelo autor Valdeci, que sem quaisquer motivos o ameaçou com a faca tendo este tomado posse de uma pedra e arremessado contra o referido cidadão, atingindo a região craniana e se escondendo para não ser novamente atacado.

Por fim, a perícia técnica foi acionada para os trabalhos de praxe, perito Péricles, relatando que compareceria posteriormente uma vez que se encontrava em outra diligência. Foi ressaltado que o corpo de Valdeci seria encaminhado para o Instituto Médico Legal (IML), de São João del Rei, a fim de demais exames periciais. Também, de acordo com o B.O foi realizado contato com os familiares do autor sendo informado quanto ao fato que posteriormente tomaram as devidas providencias.

Os fatos acima estão no B.O. da PM de Barroso, porém, algumas testemunhas oculares e e-mails enviados a redação relatam versões diferentes das documentadas pelos policias. Até mesmo na internet, existe um post no face de uma jovem barrosense que relata em detalhes a ação, na opinião dela, exagerada da PM. “Hoje de manhã sai da minha casa por volta de 7 e meia e fui em direção ao salão de da minha amiga no qual já tenho costume de frequentar. Por volta das 10 horas da manhã, ouvimos um barulho como se tivesse jogando um tijolo em um carro ou até um tiro, não sei ao certo o que foi aquele barulho, mas diante da nossa curiosidade e até mesmo preocupação em saber o que estava acontecendo, chegamos na porta do salão, e para a nossa surpresa,vimos duas viaturas da Polícia e uns 5 policiais batendo em apenas 1 homem. Minha vontade era de ter filmado para que não houvesse dúvidas no que eu vi com meus olhos que a Terra há de comer. Infelizmente eu fiquei tão chocada com aquela situação que não tive a ação de filmar. Não teve como esquecer aquele cara algemado já no chão e aqueles policiais chutando, batendo e até dando socos na CARA do cidadão. Claro que eu não sei o que o cidadão tinha feito, mas seja o que for, os policiais no meu ponto de vista não tinha o direito de bater. O cara já estava algemado e ele estava bem tranquilo, quieto na dele, e os policiais batendo naquele pobre homem. Gente, o cara não tava com nada na mão..não tinha faca nenhumaaaaaaa!!! Agora eu cheguei em ksa,abri o face e vi uma reportagem no Barroso em dia dizendo que o cara faleceu!? E que o motivo é parada cardíaca?? Pode ate ser que seja!! Minha gente,o cara tinha problemas de cabeça. Inacreditável. Lamentável e é uma vergonha!!! Policial não tem a função de bater, não tem a função de agredir. Algemou, leva para onde tem que levar e resolvi lá,não tem necessidade de algemar e bater no cidadão. Esse é o meu ponto de vista! Como eu me arrependi de não ter filmadoooo. Eu sei que Deus vai fazer justiça… A familia desse pobre cidadão os meus sentimentos. Infelizmente não filmei e me sinto ate um pouco culpada, mas isso aconteceu para que da próxima vez eu nem pense 2 vezes em filmar e jogar na internet!!!”, trecho do post no face.

O Tenente Durso, responsável pelo Pelotão de Barroso, já comentou as detenções dos militares e disse que agora aguarda decisão da justiça militar sobre o caso.

Comments are closed, but trackbacks and pingbacks are open.