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O percurso da Avenida Genésio Graçano e sua continuação até o Bairro Jardim Europa – Avenida Tiradentes – é um marco no urbanismo da cidade de Barroso. Pela largura da Avenida e seu projeto paisagístico, pelo seu canteiro central, suas palmeiras e fícus e também pelo belo projeto arquitetônico do trevo, a Avenida sempre encantou barrosenses e visitantes. Já há algum tempo, entretanto, a Avenida vem sendo transformada, para pior.

A primeira grande mudança que vem (des)caracterizando a Avenida, geração após geração, diz respeito à aniquilação gradual de seu canteiro central. Em apenas 2 quilômetros já são 19 as aberturas no canteiro. Esses buracos foram sendo abertos ao longo do tempo menos em função das necessidades da cidade, como por exemplo a abertura de novas ruas nas imediações, e muito mais aos ventos dos interesses privados. Onde quer que exista um empreendimento ou uma simples garagem, lá está mais um buraco na Avenida. A péssima notícia é que essas práticas não foram esquecidas no passado, pois a Prefeitura acaba de “inaugurar” mais um, novamente e como era de se esperar, sem nenhum sentido público aparente e cheio de significado privado evidente. Todas essas intervenções e as quase duas dezenas de retornos que já existem na Avenida não são só uma tragédia do ponto de vista urbanístico, elas também causam confusão, incerteza e insegurança no trânsito da cidade.

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Outra triste realidade verificada na Avenida é a invasão do mesmo canteiro para a fixação de placas. São placas de toda natureza, algumas mais antigas, outras mais recentes, a maioria comerciais. A prática é comum e o exemplo vem da Prefeitura, pois basta que um evento qualquer aconteça na cidade que lá está uma faixa de boas vindas afixada nas árvores(!). Diga-se de passagem, são faixas que permanecem “embelezando” a cidade por longos períodos após a realização do evento, algumas vezes até serem consumidas pelo tempo.

Mais recentemente a Avenida passou ainda por três grandes intervenções dignas de nota e que só pioraram a situação: i) nova calçada ii) mudança paisagística; iii) novos quebra-molas.

A nova calçada, um dispêndio de dezenas de milhares de reais ao erário público, foi pensada para resolver alguns problemas, como: garantir segurança e melhorar a prática da caminhada. Ela não garante segurança especialmente porque não resolve a falta de passeios no trecho da Avenida Tiradentes, logo, as pessoas continuam dividindo a rua com os carros. Ela não melhora a prática de caminhada porque o piso escolhido é totalmente inadequado, reprovado por 10 entre cada 10 fisioterapeutas e educadores físicos. Ela não só não resolveu nenhum desses problemas como transformou a Avenida em um mix de estilos urbanísticos de gosto duvidoso: de um lado o passeio tradicional com grama, de outro o passeio novo.

Por falar em mistura de estilos, recentemente novas árvores foram plantadas no que sobrou do canteiro central. A Avenida agora passa a ser uma avenida onde palmeiras dividem o espaço com roseiras, um modelo de jardinagem de dar inveja a Burle Marx. Do outro lado do trevo, nenhuma reposição dos fícus que morreram, o que é até normal quando observamos o “cuidado” com as demais árvores dos jardins, calçadas e avenidas da cidade.

A terceira mudança recente foi a colocação do novo conjunto de quebra-molas. Esse é mais um exemplo de uma decisão tomada sem justificativa, sem análise, sem estudo, sem transparência, sem democracia. Para que aberrações como tais não acontecessem mais, a Câmara criou, em 2011, o Conselho Municipal de Trânsito. O objetivo do Conselho seria o de garantir que toda decisão sobre trânsito fosse levada ao conhecimento de um conjunto de representantes da sociedade (idosos, comerciantes, transportadores, etc.). Infelizmente o Conselho nunca foi homologado pra valer. Enquanto isso não acontece, novos quebra-molas vão surgir e o trânsito da cidade vai continuar sendo regido por decisões provenientes das mentes mais criativas dos gestores menos esclarecidos.

A decadência da Avenida é o retrato de uma forma de fazer política pública muito específica, baseada no improviso, no achismo e no amadorismo. É fruto também da confusão entre o público e o privado, da inobservância das leis e do desrespeito aos códigos de postura, tácitos e escritos. O que fizeram e continuam fazendo com a Avenida retrata um estilo de administração que, infelizmente, é muito mais a regra que a exceção no Brasil, porém que não pode e não deve mais ser tolerado pela sociedade.

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