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Quando foi realizada a Copa do Mundo no Brasil, em 1950, eu tinha recém completado 18 anos. Era aluno interno do Colégio São João, em São João del Rei, desde 26 de dezembro de 1943. O colégio era um seminário dos Padres Salesianos. Nosso regime disciplinar era  extremamente rigoroso. Não tínhamos contato com pessoas estranhas ao colégio, nem mesmo com nossas famílias, a não ser numa visita de duas horas que nossos pais nos faziam no  primeiro domingo de cada mês. Não ouvíamos rádio nem líamos jornais, nem livros que não fossem os escolares. Assim sendo, nada sabíamos do que acontecia na cidade, no Brasil e no mundo, a menos que fossem acontecimentos religiosos. Daí que muitíssimo pouco ficamos sabendo da Copa do Mundo que, em junho/julho de 1950, estava acontecendo no Brasil, a não ser uma ou outra notícia que eventualmente vazava de fora para dentro. Duas lembranças dessa Copa me ocorrem. A primeira foi a derrota da Espanha pelo Brasil por placar de 6X0, salvo engano meu. Esta derrota da Espanha foi uma grande decepção e causa de muitas lágrimas para as Irmãs Mercedárias, todas espanholas, que prestavam serviço no Hospital da Mercês. A segunda foi a nunca imaginada derrota para o Uruguai na partida final da Copa, que acabou se transformando em verdadeira tragédia nacional. 

A revista VEJA em sua edição 2377, de 11/06/14, sob o título ‘RETRATO DE DOIS BRASIS’, traça um paralelo do Brasil de 1950 e de 2014. Muitas informações relativas ao primeiro e ao segundo Brasil são muito interessantes, especialmente para quem não viveu no Brasil de 1950. Aponto a seguir uns poucos exemplos dos comentários da VEJA:

-ATRASOS: tal como em 2014, também em 1950  as obras necessárias e programadas para a realização da Copa sofreram atrasos, foram inauguradas inacabadas e ficaram mais caras do que os valores orçados inicialmente.

-BUROCRACIA: em ambas as copas a bur(r)ocracia típica e endêmica dos serviços públicos retardou o cronograma das obras.

-ELEIÇÕES: como neste ano, também em 1950 houve eleições para os cargos executivos e legislativos nacionais e estaduais, e o evento esportivo foi e será aproveitado pelos candidatos em suas campanhas.  

-GASOLINA: em 1950, quando ainda não existia a PETROBRAS, o  litro da gasolina importada custava em Cr$ o equivalente a 1,98 real de hoje. Com a PETROBRAS e todas as propagandas sobre sua grandeza e eficiência, em 2014 o Brasil continua importando gasolina, cujo preço do litro nos postos custa em torno de 2,80 reais. -INGRESSOS:  em 1950 os ingressos mais caros para os jogos custavam o equivalente hoje a 150 reais, e o salário mínimo equivalia, na época, a 390 reais. O salário mínimo equivalia a 390 reais de hoje, ou seja, com um salário mínimo de 1950 o trabalhador podia comprar dois dos ingressos mais caros para os jogos da COPA, e ainda sobrava um troco. Em 2014 o ingresso para a final da COPA custa no mínimo 1.980 reais. O salário mínimo atual é de R$ 724,00, ou seja, não dá para comprar nem meio ingresso.  

-GOLEADOR DA COPA: Ademir Meneses, o Queixada, centro avante do Vasco e da Seleção, foi o artilheiro, com 8 gols. Quantos gols marcará o artilheiro do Brasil na COPA de 2014?

Sem citar outras informações da reportagem da VEJA, os dados acima já mostram as diferenças para melhor e para pior entre os dois BRASIS.

 

Por Paulo Terra

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