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Ontem, há cerca de 20 anos, recolhendo as roupas nos varais, enquanto corríamos tranquilamente pelas ruas, nossos avós diziam: Barroso não é mais a mesma. A verdade, nua e crua, é que nossa cidade não é mais a mesma há muito tempo, e não é mais a mesma, mesmo.

Foi-se o tempo em que deixávamos nossos filhos saírem sozinhos, irem ao mercado, andar de bicicleta e viver como deveria ser no interior de Minas Gerais. Foram-se as brincadeiras de queimada e vieram as tragédias por incêndios. Onde está a Barroso dos piques e correrias de moleques pelas ruas sem nenhum temor? Já não existe mais. O que ontem fazíamos, escondendo dos amigos, fugindo no esconde-esconde e adentrando garrafões, hoje, repetimos, escondendo dos bandidos, driblando garrafas e siringas, jogadas aos montes entre aqueles esconderijos que ontem eram de crianças e hoje são casas e depósitos de vagabundos e marginais. Não é mais a mesma, mesmo. São casos de estupros, queimas de arquivo, crimes, incêndios, negligência, apreensão de cocaína, maconha e muito crack. Foi-se o tempo sem ao menos dizer adeus.

Não há mais os namoros na fonte e na rua do Sant´Ana. Fonte é ponto de encontro de maconheiros, que baforam a droga à luz do dia sob os nossos narizes e a nossa reputação. Ruas e portões de namorinho são pontos de drogas e aeroportos de aviõezinhos. Hoje, 20 anos depois, enquanto nos escondemos, de medo, entre as mesmas ruas, nossos avós ainda dizem: Barroso não é mais a mesma. Foi-se o tempo em que o Buraco do Lobisomem era uma lenda, que nos colocava medo na hora de dormir, que quem ia ao João Vigia, sozinho, ia realmente jogar bola e voltar, que a Rua da Cadeinha era mesmo apenas um lugar onde houve uma cadeia, que o Brejinho era praça de esporte, que o Montanhês era um campo, que o São José era outro, que a Praia era motivo de brincadeiras, que o Guede tinha quadrilha apenas de festa junina, que a Cohab era apenas extensão do Bandeirantes, que o Guimarães era um bairro nobre, que o Europa era longe, que o Rosário era sinônimo de alto e que o Centro era local de festas apenas.

Enfim, foi-se o tempo, doa a quem doer. Não é mais. Cada um destes pontos está marcado por atrocidades e tragédias e estigmatizado por rebeldes. A verdade, senhores, é que amanhã, daqui a 20 anos, enquanto compramos mais cadeados e vivemos atormentados pelo medo, nossos avós estarão dizendo: Barroso não é mais a mesma.

 

Por Bruno Ferreira 

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