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– Em uma certa praça, de uma certa cidade, um velho funcionário público passava os seus dias a vigiar um certo banco sem deixar que ninguém ali se sentasse. Ele não sabia muito bem o porquê dessa missão e sequer se lembrava como ou quando havia sido designado como guarda de banco de praça. As pessoas achavam aquilo estranho, mas aquele senhor já fazia parte da paisagem e todos se acostumaram com a situação. Alguns anos mais tarde o velho morreu e o sábio ancião da cidade revelou o mistério: o banco havia sido pintado há décadas e o senhor passou todos esses anos cuidando para que ninguém se sujasse na tinta fresca.

Essa anedota ilustra a forma como coisas estranhas podem acontecer na administração pública. Por todos os lados e em todos os níveis de governo é possível encontrar pessoas que não sabem ao certo o quê estão fazendo, qual o seu papel, sua contribuição para o todo. Existem também chefes sem visão e ordens sem sentido. Há ainda rotinas que deixam de fazer sentido com a mudança de contexto, mas que continuam a ser executadas. Tudo isso concorre para gerar ineficiência, ineficácia e falta de efetividade. Algumas vezes os resultados podem ser cômicos, senão bizarros.

Em Barroso, por coincidência na Praça de Santana, uma situação igualmente anedotária está fazendo aniversário de 10 anos este ano. Em 2004 houve uma mudança na regra do estacionamento e os carros, que até aquele ano paravam em paralelo, passaram a estacionar em 45º. A mudança objetivava ampliar no número de vagas e foi exatamente isso que aconteceu. Para operacionalizar essa modificação no trânsito, foram pintadas faixas no chão (sinalização horizontal), mas o que os dirigentes municipais se esqueceram de fazer em uma década foi adaptar as placas (sinalização vertical) à nova realidade. Com a regra implementada pela metade, o número de vagas de taxi na praça dobrou da noite para o dia, sem que o número de taxistas tivesse aumentado. O resultado é um vazio permanente no lugar, com vagas de estacionamento existentes, mas injustificadamente proibidas. Por ironia, aquele é precisamente o lugar mais concorrido da cidade para estacionamento, pois fica de frente a toda rede bancária do município.

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Situações como essa geram desconforto para a população e causam prejuízos, mas entram para o cotidiano e fazem com que as pessoas se acostumem. O caso retratado é apenas um exemplo do que acontece rotineiramente em todos os cantos da cidade e do país. Quando uma praça vai aos poucos perdendo sua iluminação, quando a violência vai tomando conta, quando uma política pública já não gera resultados (ou nunca gerou), mas continua a ser executada, todos passamos a viver em uma realidade social triste e desestimulante, mas com a qual vamos, paulatinamente, nos habituando. Muitas vezes os problemas não se resolvem por pura inércia e pela incapacidade de enxergarmos o que está visível. É por isso que cada cidadão precisa manter aceso em si o senso crítico e a capacidade de indignação. Tudo pode melhorar, mas nada acontecerá sem que prestemos atenção ao nosso redor e abandonemos os maus costumes e as zonas de conforto.

 

Por Antônio Claret

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