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A tragédia, que chocou a cidade de Barroso e o país, no último sábado (26), possui diversas versões. Diante deste desencontro de informações, o jornal EM DIA, que sempre trabalha de forma ética e responsável, ouviu pessoas envolvidas direta e indiretamente no caso. Amanda Francisca Guimarães, 19 anos, mãe das vítimas; Ketlen Larissa Guimarães, de 3 anos, e David Júnior Guimarães, de 1 ano e seis meses, falou à reportagem e deu seu relato sobre Tragédia da Rua Viena.
 
Jornal EM DIA: Amanda, quem estava na casa naquele dia na hora do incêndio?
Amanda: Eu estava em um quarto dos fundos com mi-nha irmã Sandrinha. Na parte da frente, em um quarto, estavam as crianças e no outro quarto estavam dois colegas meus, que já frequentavam a casa por serem amigos do meu irmão. Nós pedimos para eles dormirem lá porque tinha um homem mexendo no portão. Daí ficamos com medo e pedimos para eles dormirem lá.
 
Há indícios de que o fogo começou na sala. Você sabe dizer se é verdade?
Foi. Eu levantei e fui passar pela sala, mas o fogo estava muito alto e não deu pra passar.
 
Você escutou alguma coisa? Alguma criança gritou?
Não. Ninguém gritou não. Minha irmã me chamou e me avisou que a casa estava pegando fogo. Ao levantar para tentar sair pela sala, não tinha nem como passar, o fogo estava muito alto. Abri a porta dos fundos, pulei o muro e comecei a gritar socorro. Depois pulei outro muro que fica na frente da minha casa e tentei abrir a porta da frente, mas ela não quis abrir. Não tinha como entrar de forma alguma, o fogo estava muito alto. Eu tentei passar, mas não teve como. Pedi às pessoas para tirarem as crianças, mas ninguém quis entrar. 
 
E sua irmã e os dois homens? Como eles saíram?
Não sei como eles saíram. Na hora que pulei o muro para ir à frente da casa eles já tinham saído. Depois não os vi mais. Dizem que teve um que ouviu meu menino pedindo socorro, mas ele não fez nada. Não sei se é verdade. Os quarto deles era de frente e eram os únicos que conseguiriam passar. Mas não sei se é verdade porque ainda não conversei com eles.
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Quando o Elias (que ajudou a salvar) chegou, o que você estava fazendo?
Quando o Elias chegou, eu já estava tentando abrir a porta da frente, mas não tinha como passar, o fogo estava muito alto, a televisão já tinha explodido. O Elias foi quem arrombou a janela do quarto em que as crianças estavam e entrou. Ele também arrombou a porta. Eu tentei entrar, mas os policiais não deixaram.
 
A primeira reação de uma mãe é o instinto materno de proteger o filho. Na hora que você viu o fogo, mesmo alto, você tentou passar para o quarto onde estavam as crianças?
Eu tentei. Eu chamei minha irmã, mas ela já tinha saído. Não tinha como passar era muito fogo. Estava muito alto o fogo.
 
Há informações de que vocês trabalhavam com materiais que poderiam ser inflamáveis. Você acha que isso ajudou o fogo a se alastrar mais rapidamente?
É, mas isso não pegou fogo. A gente enrolava tiras de pano que se transformavam em bolinhas, mas os dois sacos de bolinha que estavam atrás da porta não pegaram fogo. Elas estavam só pretas de fumaça. O fogo foi no sofá e no rack.  Na sexta à noite, na hora que a gente ia tomar banho, o relógio desarmava toda hora e dava cheiro de queimado. Lá já tinha um fio solto que já tinha pegado fogo um dia quando fui arrumar o cabelo. Colocamos esse fio, que às vezes pegava fogo, para trás do sofá.
 
Algumas pessoas disseram que houve festa na sua casa na sexta-feira à noite. Teria ocorrida alguma festa?
Não teve festa. Fiquei até três horas da manhã acordada, mas o movimento que tinha na casa era porque minha irmã tinha acabado de ir para o hospital, porque a bolsa dela tinha estourado. Já ouvi as pessoas dizerem que tinha bebidas e drogas na casa, mas não tinha nada disso. Como eu ia beber em um momento daquele, sabendo que minha irmã ia ganhar neném?
 
Qual o último contato com as crianças?
Foi durante a madrugada. Eles ficaram brincando comigo até às três horas (choro). Após este horário, eles dormiram junto comigo, no quarto dos fundos, onde dormimos eu, minha irmã e meus dois filhos, (Ketlen, de 3 anos, e David, de 1 ano e seis meses). As outras crianças dormiram no quarto da frente. Eu acordei às seis horas para dar mamar a eles, mas depois eles e eu dormimos novamente, no quarto dos fundos. Só que eles acordaram novamente umas duas horas depois e foram para o quarto da frente onde estavam as crianças. Eles tinham mania de acordar e ir brincar com os outros.
 
Se você pudesse voltar no tempo, o que você teria feito?
(choro) Eu teria feito tudo para tirá-los de lá. Eu não queria que isso acontecesse. Eu tentei passar, mas não teve como (choro). Tinha muito barulho de estouro para tudo quanto era lado.
 
Como está sua vida agora?
Não tem graça e nem sentido. Em todos os lugares que eu vou, lembro-me deles.
 
Tem mais alguma coisa que você queira acrescentar?
As pessoas estão me ameaçando até de morte. Algumas mulheres falaram que, se eu sair, elas vão me matar. Já até pedi à Polícia proteção. Estão todos me ameaçando.

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