Compartilhe:

A edição deste final de semana da revista The Economist trouxe uma matéria sobre a produtividade da mão-de-obra no Brasil. O título da matéria Soneca de 50 anos (50-year snooze) dá o tom da crítica que se faz. Por meio de uma série de dados contundentes, a conclusão a que chega a revista é a de que o país está perdendo oportunidades de desenvolvimento devido ao despreparo, à baixa qualificação e ao rendimento insuficiente do trabalho. Além desses fatores, destaca-se ainda o excesso de regulamentação em alguns setores e o baixo investimento em infra-estrutura.

Entre os países dos Brics, a produtividade do trabalho foi responsável por 40% do crescimento do PIB brasileiro entre 1990 e 2012. Na Índia, no mesmo período, o trabalho foi responsável por 67% do crescimento e na China por 91%. O Brasil tem ainda aproveitado uma demografia muito positiva e baixas taxas de desemprego. Para que o país continue crescendo nos próximos anos, quando se espera que a população em idade ativa diminua, será fundamental ampliar a produtividade do trabalhador. A reportagem cita uma série de exemplos que ilustram a forma como as coisas funcionam em marcha lenta e de forma ineficiente no país, a começar pelos aeroportos e estádios da Copa. Cita ainda a opinião do economista Regis Bonelli da Fundação Getúlio Vargas, segundo ele “filas, congestionamentos, compromissos perdidos e outros atrasos têm sido tão onipresentes, por tanto tempo, que os brasileiros se tornaram anestesiados.”

soneca

Em comparação à média dos países em desenvolvimento, que investem 5,1% do PIB em infra-estrutura, o Brasil investe apenas 2,2%. Do total de 278.000 patentes registradas no ano passado, apenas 254 eram brasileiras. O país que representa 3% da população mundial é responsável por menos de 0,1% das inovações. Os gastos em educação tem se aproximado da média dos países desenvolvidos, mas a qualidade continua muito baixa. Quando verificados os resultados dos testes internacionais de educação, nota-se que as habilidades dos brasileiros de 18 anos se comparam às dos americanos de 14 anos.

No universo empresarial, as legislações recentes facilitaram a formalização de micro e pequenas empresas, algo extremamente positivo para os negócios e para a arrecadação de impostos. O atual formato da legislação, entretanto, tem desencorajado o crescimento e gerado incentivos para que as empresas restrinjam seus investimentos e permaneçam pequenas. A esse fenômeno a literatura econômica tem chamado de “síndrome de Peter Pan”. Grande parte das firmas brasileiras são também ineficientes e mal administradas, aponta a reportagem. Ao contrário de sucumbirem à competição e darem lugar a firmas mais eficientes, porém, essas empresas se agarram ao protecionismo e aos incentivos do estado e continuam operando.

Quando analisada em detalhe, a baixa produtividade da economia brasileira chama atenção. A revolta contra os orçamentos super inflacionados e os atrasos absurdos das obras da Copa do Mundo, por exemplo, devem ser entendidas também à luz dessa variável. Se, por um lado, a baixa produtividade é resultado cultural e, como tal, levará ainda gerações para ser transformada, por outro, as regras que estruturam o sistema tem também um papel decisivo na aceleração dessa mudança. O Estado deve deixar de apadrinhar os “amigos do rei”, escapar dos setores não essenciais, concentrar-se na tarefa de melhorar a educação e a saúde e estabelecer melhores critérios e metas para contratar a iniciativa privada. Por sua vez, o empresariado deve ter atenção especial aos desafios de um mundo globalizado e de uma concorrência em escala macro. A tarefa de acordar da soneca de improdutividade é complexa, mas possível e necessária. Mais produtividade significa, em última instância, mais qualidade de vida para todos.

por Antônio Claret

Comments are closed, but trackbacks and pingbacks are open.